sábado, 16 de fevereiro de 2013

A farra da “padrinhagem” na Igreja Católica

 

Não sei se vocês já perceberam, mas há alguns anos a figura do padrinho é constantemente denegrida por parte dos católicos em nosso país. Para qualquer um, seja católico ou budista, padrinho é sinônimo de camaradagem, coleguismo, estreitamento de vínculos socioafetivos. Estou mentindo? Pois bem, data vênia a qualquer exagero, a situação que conheço não é muito diferente dessa apresentada.
 
 
Em se tratando desse assunto, existem duas palavras-chave que merecem destaque: ignorância e relativismo. A primeira delas não raro pode ser atribuída aos pais das crianças que não entendendo muito bem o propósito do batismo, menos ainda entendem a função dos padrinhos nessa história toda.
 
 
A segunda pode ser facilmente atribuída ao clero que sente pena dos pobres pais e padrinhos por trabalham muito (sic) e não terem tempo de fazer um curso de batismo aprofundado. Outro ponto que contribui para essa situação é a falta de perícia na investigação da vida que o padrinho leva por parte desse mesmo clero. Obviamente quem deveria ser criterioso na escolha do padrinho seriam os próprios pais a quem o direito canônico confere o poder de escolha. Porém aqui eu aplicaria a expressão ecclesia supplet (a Igreja supre) para significar a atenção do clero em relação à escolha do padrinho devido à falta de conhecimento dos pais.
 
 
O direito canônico é claro ao dizer que para ser padrinho é preciso que o candidato “seja católico, confirmado, já tenha recebido o santíssimo sacramento da Eucaristia e leve uma vida de acordo com a fé e o encargo que vai assumir” (Can. 874). Não obstante a clareza da lei, o critério sempre foi o da afinidade (ou pretensão de). Ao padrinho, deve-se enfatizar o que diz a lei da Igreja, “cabe acompanhar o batizando adulto na iniciação cristã e ajudar que o batizado leve uma vida de acordo com o batismo e cumpra com fidelidade as obrigações inerentes” (Can 872).
 
 
Portanto, sejamos claros como o sol como dizia um professor meu, qual o acompanhamento espiritual que uma pessoa que não “leve uma vida de acordo com a fé” poderia dar ao batizado? Levante a mão quem não teve um padrinho que hoje é protestante ou que lê livros da Zíbia Gasparetto ou ainda que participou de uma missa há uns trinta anos atrás; levante a mão ainda se o seu padrinho nunca perguntou se você estava indo à missa, à catequese ou rezando todas as noites. Enfim, esses são alguns poucos exemplos de posturas mais que comuns deste sacramento que se tornou um legítimo”sociocramento” (sacramento social).
 
 
Quando se encontra um padre responsável que nega o apadrinhamento a candidatos incompatíveis com o munus a ser exercido, logo se ouve aquele alarde: rasgam-se as vestes para dizer que a Igreja é muito rígida, que é um absurdo tal mentalidade em pleno século XXI e por aí vai. De duas uma: ou eles desistem do sacramento (afinal aquilo se revela o que realmente é para eles – um ato social) ou procuram um padre dito mais liberal, sem muito legalismo (sic), que resolva tudo com um rápido supletivo catequético.
 
 
O batismo é algo tão sério na Igreja católica que vai muito além do significado – ele é reativo na alma. Em outras palavras, além de significar a adesão formal à Igreja, também lava a alma da mancha do pecado original. Portanto, para que não haja dúvidas quanto à perda da graça divina (mais tarde reconstituída por Cristo), sugiro que todos leiam o capítulo 2 em diante do livro de Gênesis.
 
 
A justificação por meio do batismo é fundamental para que a amizade com Deus seja reconstituída. Portanto, os pais fazem as vezes das crianças na adesão delas à antiga graça perdida pelo pecado original. E onde entram os padrinhos nessa história? A Igreja ensina que o batismo é o primeiro passo e impele à profissão de fé (à adesão à mensagem de Cristo). Nesse contexto os pais vão encaminhar os filhos, como primeiros catequistas, à essa futura profissão de fé e os padrinhos serão cooperadores nessa tarefa.
 
 
 
É verdadeiramente dramático para padres fiéis à doutrina da Igreja terem de fazer acepção de pessoas em vista da consciência turvada de pais e candidatos a padrinhos. Querem elevar à dignidades de tutores da fé homossexuais declarados, casais em adultério, militantes de partidos socialistas, maçons e, pasmem, até mesmo protestantes e toda sorte de sectários religiosos. Muitas vezes os próprios padrinhos nessa situação, muito mais conscientes que os pais, interiormente sabem que não têm condições de assumir essa missão. Porém, à despeito do apelo da consciência, impera sempre a mentalidade do “fica chato dizer não…”.
 
 
Em nenhum momento se pensa em alma, justificação, pecado e redenção por uma razão muito simples: para a grande maioria dos católicos isso não passa de jargão de teólogos e padres. Mas há de se enfatizar que o conhecimento sobre as questões morais e doutrinais que a Igreja ensina a todos e está aí na internet para quem quiser ler, é questão de vida ou morte.
 
 
 Esse conhecimento é subsídio para a vida da alma tanto quanto saber que não deixar água parada na garrafa no quintal é subsídio para a vida do corpo. É de suma importância que os católicos conscientes expliquem tudo isso sem respeito humano por amor a Deus e ao próximo. É triste, mas não surpreendente que farras como a do apadrinhamento irresponsável pode começar aqui e terminar no inferno “onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13, 50).
 
 

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