terça-feira, 27 de novembro de 2012

Ver pelas costas

Onde estão nossas falhas, erros e enganos? Estampados em nosso rosto? Marcados em nossas mãos? Expressos em nosso olhar? Talvez. Mas a experiência humana parece indicar que nossos defeitos vão sendo escritos em nossas costas, numa clara e límpida linguagem.

A primeira evidência dessa geografia corpórea dos defeitos está em nossa capacidade de ver sempre os defeitos dos outros pelas costas, lá onde eles nada enxergam ou admitem. É incrível como a gente vê bem os defeitos e fraquezas dos outros. É como se eles andassem com uma tabuleta de defeitos pendurada nas costas. Frente a frente, apenas sorrisos ou cordialidade.

Mas, logo após a passagem do outro, já estamos prontos para ler com atenção e comentar com certo prazer a lista de seus defeitos. É comum fazê-lo para nós mesmos ou para os outros?

A segunda evidência dessa mesma geografia do corpo está no fato de que não conseguimos enxergar nossos defeitos. Não há retrovisor, nem espelho que possa dar jeito nessa nossa dificuldade. Na linha da autocrítica, existe aquele ditado popular que recomenda olhar no espelho. O problema é que a lista dos defeitos está dependurada atrás, nas costas. Olhar-se de frente no espelho, para muitos, é uma simples confirmação das suas qualidades.

Mas como vamos nos posicionar diante da vida e dos outros? Quando os defeitos são ou podem ser defeitos? Quase sempre de uma maneira simples através da conversa amiga e franca em que somos capazes de dar a nós mesmos ou aos outros a possibilidade de nos criticarem.

Quando somos capazes não somente de falar, mas de escutar os outros e ser escutado por eles. É quando saímos do eu para o tu e do tu para o nós. É quando verdadeiramente dialogamos e nos reconciliamos. Não estamos conversando para relatar nossos defeitos. Estamos dialogando para conhecer nossos defeitos. Nesse diálogo abrimos nossos olhos para enxergar.

Feito isso, ver-se pelas costas, começa-se a andar, a agir e a ver melhor pela frente. Não depende somente de nós, mas começa pela nossa capacidade e vontade de ouvir e ver o outro de uma maneira diferente.

Maria Inez de Andrade Aires
Psicóloga

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