segunda-feira, 2 de abril de 2012

OFÍCIO DAS TREVAS


Ofício divino, de caráter triste, em algumas igrejas cantado na Semana Santa, principalmente na Quarta-feira Santa que, por isso, também é chamada Quarta-feira das Trevas.  w  Na catedral de Mariana (MG), o ofício das trevas é rezado às 9.00hs no Sábado de Aleluia.  w  A tradição é antiquíssima. Desde o séc. VII, celebra-se com orações litúrgicas as exéquias do Senhor. No séc.VIII, a liturgia franco-romana já conhece o apagar das luzes durante o ofício, na Sexta-feira e no Sábado.

No século IX, também na Quinta-feira Santa. Desde o séc.XII, o nome ‘ofício das trevas’ indica a oração noturna (matinas e laudes) do ofício divino nos dias Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado de Aleluia.  As matinas e laudes rezadas seguidas contam 14 salmos e nove leituras, das quais algumas lamentações do profeta Jeremias. É “de trevas” pois, no decorrer dele, apagam-se sucessivamente 14 velas em memória das trevas que cobriram a terra na morte do Senhor. Para este fim, é usado um candelabro triangular com 15 velas.

A vela da ponta, a décima quinta, representa o Cristo. As outras representam os onze apóstolos e as três Marias. Segundo vários autores medievais, apagar uma vela após cada salmo significa o abandono de Jesus por seus seguidores, pricipalmente no horto. A liturgia antiga colocava a última vela acesa atrás do altar para trazê-la de volta mais tarde, talvez no amanhecer, simbolizando assim a morte e a ressurreição do Senhor.[1] v. Círio pascal. 

A décima quinta vela no alto do candelabro triangular é chamado galo ou galo das trevas, também em Portugal.  No final do ofício cantado em latim, era costume fechar os livros com força exagerada. Segundo o Goffiné, "remata o officio um rumor confuso, que lembra o tropel e queda tumultuosa da cohorte, que, guiada por Judas, veio alta noite aprisionar a divino Salvador no Horto das Oliveiras”.[2] Já para outros, o barulho no final do ofício significa o terremoto que acompanhou a morte de Jesus, ou então a destruição de Jerusalém.

Antigamente, na igreja matriz de Iguape (SP), "sobre o assoalho de largas tábuas de madeira de lei os pés dos fiéis, batendo fortemente, produziam um ruído de trovão, no ofício das trevas na Semana Santa".[3] 

O “ofício de trevas”, que indicava as orações noturnas de três dias seguidos, hoje se resume em uma única celebração. E, devido ao excessivo verbalismo e a pouca fantasia litúrgica, somente em poucos lugares encontramos esta cerimônia cantada. 

Jota Dângelo reflete: “O ofício das trevas é, na realidade, o início de todo um ritual, quase em extinção, das solenidades da Semana Santa. Em São João del-Rei elas conservam-se intocadas, precedidas de uma faina e um labor coletivos. Nas sacristias, bastidores bentos deste grande palco religioso, é de ver-se os preparativos ritualísticos para a grande festa barroca.

Reformam-se as tochas, rebordam-se paramentos, ornamentam-se as tribunas, povoa-se de flores a capela do Santíssimo, lustra-se o esquife, repara-se o pálio, fazem-se brilhar lanternas e custódias, enjarreiam-se os andores, engomam-se as opas, lavam-se as alvas, passam-se os hábitos, providenciam-se cartuchos de amêndoas, asas de anjos, trajes de figurados, capacetes de centuriões, incenso para os turíbulos, montam-se palanques, lustra-se a prataria das bancadas.

Uma atividade frenética domina uma centena de colaboradores sem qualquer remuneração. É a fé que nos move? A todos? Não importa. O ritual permanece vivo”.[4]

[1] Cf. BRINKHOF, Lucas. ofm; et alii. Liturgisch Woordenboek. Roermond en Maaseik, J.J. Romen en Zn, 1958-1962. pp.560-571; HEIDT, A.M. Catholica. Vol.1. Hilversum, Stichting Catholica ,1968. pp.640-641.a
[2] GOFFINÉ,L. Manual do Christão. Rio de Janeiro, Colégio da Imaculada Conceição (Botafogo), 1900. p.430.a
[3] MACHADO, Benedito. Senhor Bom Jesus de Iguape. São Paulo, Luz e Silva Ed., 1990. p.24.a a aa
[4] DÂNGELO, Jota. “O Rito Barroco da Paixão”. In: Palavra. Ano 2. No.13. Maio/2000. pp.96-97.

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