sábado, 4 de fevereiro de 2012

Por quê existe o sofrimento? (Parte 1)

Pergunta — Se Deus é nosso Pai, por que Ele permite a guerra, a doença, a fome? Por que Ele permite que seus filhos sofram? Por favor, me ajudem!

Resposta — O apelo final por ajuda indica uma pessoa submetida a muitos sofrimentos, que deseja entender a razão deles em face de um Deus que é Pai de misericórdia: “Compassivo e misericordioso é o Senhor, paciente e cheio de misericórdia; o Senhor é suave com o mundo todo, e suas misericórdias se estendem sobre todas as suas obras” (Ps 144,8-9). Como explicar, então, que Deus permita que soframos?

Como primeiro movimento de uma alma católica e sacerdotal, me compadeço desses sofrimentos e peço a Maria Santíssima que interceda junto a Deus Nosso Senhor para que eles sejam diminuídos na medida do possível. Mas há uma quota de sofrimento, variável no modo e na intensidade, que cada um de nós nesta vida tem de carregar. Para esse sofrimento peço a Deus, em favor da consulente, a paciência e a resignação de alma, tão agradáveis a Nosso Senhor e tão cheias de frutos para nossas almas.

A pergunta tem um alcance mais profundo do que talvez a própria consulente imaginou ao formulá-la. Com efeito, ela incide sobre uma discrepância fundamental entre o espírito católico e o mundo moderno. Esse ponto de discrepância consiste na seriedade com que devemos encarar a vida nesta Terra.

A grave crise de seriedade

O mundo moderno vive um momento de grande decadência espiritual e moral, que teve origem numa grave crise de seriedade. Essa crise veio se desenvolvendo ao longo de séculos, mas até a I Guerra Mundial (1914-1918) a sociedade ainda conservava importantes traços de seriedade. Fotografias e filmes da época mostram pessoas geralmente sérias, tanto nas cenas da vida quotidiana como em ocasiões de solenidade.

Entretanto, a partir de então, o processo que leva a ter uma posição superficial perante a vida sofreu uma aceleração rápida, em conseqüência principalmente da difusão do “espírito de Hollywood”. Assim chamamos o espírito disseminado pelos filmes provenientes dos Estados Unidos (os quais, aliás, segundo observadores dignos de crédito, apresentavam a mentalidade norte-americana não de modo autêntico, mas caricatural). O fato é que, em poucas dezenas de anos, implantou-se em todo o Ocidente um modo otimista, risonho e superficial de encarar a vida, caracterizado pela convicção gratuita de que o desenrolar dos acontecimentos termina sempre num happy end. Isto é, tudo nesta vida tem um final normalmente feliz.

Tal estado de espírito predispõe a considerar o sofrimento como um intruso no decurso normal da vida. Assim, para compreendermos sem dificuldade a razão de ser do sofrimento no plano divino, temos que expungir de nossa alma todo resquício de espírito hollywoodiano que, mesmo sem o percebermos, se tenha introduzido em nós. Para isso, nada melhor do que nos compenetrarmos de que a vida é séria, extremamente séria.


Fonte: Revista Catolicismo

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