“Depois do batismo de penitência do Jordão, no qual assume sobre si o destino do Servo de Deus que renuncia a si mesmo e vive pelos outros e se coloca entre os pecadores para tomar sobre si o pecado do mundo, Jesus se refugia no deserto para estar quarenta dias em profunda união com o Pai, repetindo assim a história de Israel, todos aquelas sequências de quarenta dias ou anos os quais citei [cf. Gn 7,4.12; 8,6; Ex 24,18; Dt 8,2.4; Jz 3,11.30; 1 Re 19,8].
Esta dinâmica é uma constante na vida terrena de Jesus, que procura sempre um momento de solidão para orar ao seu Pai e permanecer em intima comunhão, em intima solidão com Ele, em exclusiva comunhão com Ele, para depois retornar para o meio das pessoas. Mas neste tempo de ‘deserto’ e de encontro especial com o Pai, Jesus se encontra exposto ao perigo e é invadido pela tentação e pela sedução do Maligno, o qual o propõe uma outra via messiânica, longe do projeto de Deus, porque passa através do poder, do sucesso, do dinheiro, do domínio e não através do dom total na cruz. Esta é a alternativa: um messianismo de poder, de sucesso ou um messianismo de amor, de dom de si.”
“Esta situação de ambivalência descreve também a condição da Igreja no caminho no ‘deserto’ do mundo e da história. Neste deserto, nós cristãos temos certamente a oportunidade de fazer uma profunda experiência com Deus que faz forte o espírito, confirma a fé, nutre a esperança, anima a caridade; uma experiência que nos faz participantes da vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte mediante o sacrifício de amor na cruz. Mas o ‘deserto’ é também o aspecto negativo da realidade que nos circunda: a aridez, a pobreza das palavras de vida e de valores, o secularismo e a cultura materialista, que fecham a pessoa no horizonte mundano do existir diminuindo toda referência à transcendência.
É este também o ambiente no qual o céu que está sobre nós é obscuro, porque está coberto pelas nuvens do egoísmo, da incompreensão e do engano. Apesar disso, também para a Igreja de hoje, o tempo do deserto pode transformar-se em tempo de graça, já que temos a certeza que também da rocha mais dura, Deus pode fazer brotar água vida que mata a sede e restaura.”
- Papa Bento XVI, Audiência Geral
22 de fevereiro de 2012
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