domingo, 6 de maio de 2012

Desabafo de um catequista


Quero expor toda a minha tristeza e a agonia que sinto a cada dia, quando observo que os Sacramentos de Jesus se perdem no coração dos homens e da própria Igreja.

Vou dizer algumas coisas sérias e talvez impactantes para alguns, mas estarei dizendo o que sinto e percebo com o dia-dia. E tenho certeza que o que vejo não é exclusividade aos meus olhos.

Durante todos esses anos de catequista, observo cada dia mais a banalização descarada dos Sacramentos Cristãos. É um absurdo a forma com que as pessoas encaram os Sacramentos, sem nenhum respeito, sem nenhum apreço, sem nenhuma sacralidade! E não é por falta de conhecimento, porque muitos conhecem e entendem os Sacramentos, mas mesmo assim o desrespeitam.

O Sacramento do Batismo é tratado mais como uma superstição do que como um Sacramento. Eu já ouvi dizer que “batizar é bom porque ajuda cair o umbigo da criança”. Sem contar as famílias que, sem nenhum conhecimento, convidam padrinhos que são de outra religião para batizar seus filhos. São inadmissíveis coisas desse gênero, e devemos entender que é culpa também da própria Igreja, culpa do povo de Deus e de nós, catequistas. O que estamos fazendo que não conseguimos explicar verdadeiramente o valor de um Sacramento essencial para vida cristã? Por que os padres não tiram um pouquinho do tempo da homilia para expor essas questões? Por que concordamos com coisas dessa natureza? Isso é algo sobre o que devemos refletir, e agir de forma firme!

O Sacramento da Crisma é algo que durante muito tempo pareceu “facultativo”. Assim me disseram, logo depois que fiz a primeira Comunhão: “Ah, você faz crisma se quiser, se não quiser não precisa”... E nós sabemos que isso não é verdade! Nós entendemos e sabemos da importância do Sacramento do Espírito Santo. E mais uma vez nos calamos, como se concordássemos com essa ideia. As pessoas só procuram a Crisma quando se vêem às vésperas de seu casamento, porque a Igreja exigiu a crisma para casar. Aí é aquele corre-corre, aquele desespero para fazer catequese, querem saber quanto tempo demora, se não dá pra fazer mais rápido, e assim vai se levando um Sacramento de Deus, “nas coxas”...

O Sacramento da Penitência é outro paradigma que existe dentro da Sociedade. Confessar-se é para "beatos" (como se 'beata' fosse uma pessoa ridícula, ultrapassada ou fora da realidade! Na verdade, 'beato' é um título de honra concedido pela Igreja às pessoas que tiveram vidas exemplares); uma pessoa normal não precisa confessar. Para quê? Padre come arroz e feijão como eu, então não preciso contar meus pecados pra ele. E assim se joga no lixo mais um presente que Deus nos deu. E digo mais, muita gente dentro da Igreja pensa do mesmo jeito (até mesmo padres!). Alguns não falam, mas pensam.

Ficamos com vergonha de confessar, não queremos nos expor, temos medo de que o padre conte para alguém, e por isso protelamos, esperamos mais um tempo e deixamos de lado... Enquanto isso, nossa espiritualidade morre e o meu ser cristão também. Eu pergunto para você, meu irmão catequista, há quanto tempo você não se confessa?

O Sacramento da Unção é o mais esquecido por todos. Se perguntarem para um grupo de pessoas quais são os sete Sacramentos, a maioria irá esquecer do Sacramento da unção. E por que se esquecerão desse Sacramento? Porque muita gente entende e ensina que esse Sacramento é só para a hora da morte. Isso é um erro grave, porque o Sacramento da Unção também é um Sacramento de Cura, assim como o da Penitência; nós devemos encará-lo como um remédio espiritual. Enquanto isso, vivemos doentes espiritualmente por aí, tentamos buscar solução em tantos lugares e não percebemos que a nossa cura está tão clara e viva neste Sacramento!

O Sacramento do Matrimônio, para mim, é o segundo da lista dos mais banalizados pelo mundo. Casa-se e descasa-se numa facilidade e velocidade impressionantes! Vemos na televisão, nos jornais e nas revistas, artistas trocando de parceiros a cada ano, fazendo grandes e lindas celebrações de casamento, mas não há sacralidade nenhuma nessas uniões. São somente grandes eventos sociais e nada mais. Isso leva outros a fazerem o mesmo, e cada vez mais se casa nas Igrejas e cada vez mais se descasa nos tribunais... Por quê? Porque os casais de hoje em dia não entendem o presente que Jesus nos dá por meio desse Sacramento. Não entendem a importância que tem o Sacramento da família. E que a família é base para todo ser humano.

Toda vez que se desfaz uma família é vitória do diabo, que emprega todas as suas forças para acabar com a Graça na vida do homem. E assim, o ser humano, sem referência de família, cresce perdido, sem base, tornando-se um alvo cada vez mais fácil para o inimigo, que usa tais pessoas como instrumentos de desgraça para si e para outros. Isso é falta de família!

O Sacramento da Ordem aparece na mídia quando se alardeia algum caso de pedofilia, um “prato cheio” para opinião pública, - ateia, anticatólica, ceticista e secular, – denegrir a imagem da Igreja Católica. Devemos pontuar algumas coisas importantes em relação a esse assunto: primeiro, o erro e o pecado são inerentes ao ser humano. Por isso, o erro de um sacerdote não é o fim do mundo. Segundo, a Igreja não obriga ninguém a ser padre. Isso passa por um processo de vocação, de escolha, de livre-arbítrio, e é por isso que um vocacionado ao sacerdócio passa em média 8 anos em um seminário estudando, conhecendo-se, conhecendo as pessoas, conhecendo o trabalho que terá pela frente. E ainda assim, passam por todo esse processo pessoas que, depois, cometem tais atrocidades. O maior problema é que, na cabeça das pessoas (e para a mídia), quando um médico erra ele fere somente a sua própria imagem (não a classe médica como um todo), mas quando um padre erra ele fere também a Imagem da Igreja.

Devemos nós, leigos, cuidar mais dos nossos padres. Devemos nós, também, repudiar tantas críticas inustas que são feitas aos sacerdotes, principalmente da parte dos "evangélicos", e também devemos repudiar toda atitude errada dos sacerdotes. Tenho certeza que você, catequista, conhece padres que deixaram o sacerdócio. Eu conheço vários. Cada vez mais, rezo para que possamos ter sacerdotes sempre mais santos.

E então vem o Sacramento mais banalizado de todos, segundo a minha opinião, o Sacramento da Eucaristia. O mais banalizado em quantidade e em gravidade, por quê? Porque os primeiros a banalizar a Eucaristia somos nós, católicos, leigos, catequistas e ministros, que não nos damos conta da relevância espiritual que esse Sacramento tem para nossas vidas. Precisamos entender que banalizar este Sacramento é banalizar o próprio Cristo!

Quantas vezes você já comungou em pecado? Quantas vezes você comungou sem sentir preparado para isso? Quantos catequizandos, ao fim do ano, você viu comungando, mas você sabia que eles não estavam preparados para tal? Quantos padres cometem erros litúrgicos gravíssimos banalizando a Eucaristia?

Pensemos em nossa relação com os Sacramentos. Como estamos vivendo os Sacramentos? Consigo enxergar Jesus neles, tenho usufruído com responsabilidade e amor dos sete grandes Presentes que Jesus nos deu por meio da Sua Igreja? Pense nisso!
Por: FERNANDO LOPES, da Arquidiocese de Cuiabá - MT, coord. Pastoral da Catequese / Ministro Extraordinário da Palavra e Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística. Email: fernando9183@gmail.com. - Fonte: Catequese Católica

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.