sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Combate a Miséria : Esquerda ou Direita ? Só Cristianismo.

 


No  ano 257 d.C, quando uma perseguição implacável foi levantada contra os cristãos por Valério, o Arquidiácono Lourenço( cuja função incluia cuidar dos vasos sagrados da Igreja e distribuir dinheiro para os necessitados) foi preso e levado perante o Prefeito.

Quando questionados sobre os tesouros da igreja, São Lourenço pediu um  prazo de três dias para prepará-los. Ele então passou a recolher todos os pobres e necessitados, e os reunindo, os apresentou ao prefeito e disse: "Eis os tesouros da Igreja".


 
O cristianismo é uma forma de vida.

Ele não é, quando autentico, "algo" que se usa aqui ou ali em sua vida, de acordo com as conveniências.

Não. O cristianismo define a sua visão de mundo, a sua perspectiva sobre o que é o certo e o errado.

Isso contudo não significa dizer que todos os cristãos devem, em tudo, concordar, ter os mesmos gostos sobre trivialidades, as mesmas preferências sobre o que é acidental.

Certamente não deve ser assim, e ha espaços para diversidades de opiniões, "jeitos de ser", não sendo o cristianismo um modelo férreo de comportamento, sobre coisas banais da vida.

Contudo, sobre o fundamental, os cristãos devem concordar,  e é razoável conceber que crendo sobre o mesmo no que diz respeito ao fundamental, os cristãos tenham uma visão comum (no essencial), sobre boa parte dos temas mais polêmicos, que em geral dividem os grupos humanos.

Nestes tempos de eleições, é comum que muitos cristãos batizados se vejam divididos entre se situarem entre dois grupos : Os de esquerda e os de direita.

Alguns sugerem  termos como "progressistas" e "conservadores".

Em uma sociedade pós cristã, é mais comum que essas auto identificações sejam mais relevantes nas formas de agir na vida do que a fé recebida no batismo.

De todo modo, como "forma de cultura", o cristianismo, ainda que diluido, ocupa espaço nas formulações e auto justificações dos anseios meramente mundanos do homem moderno.

Assim sendo, em geral um "esquerdista" ou um "direitista" (ou se você preferir um "progressista" ou um "conservador") , vão fazer uso do cristianismo para justificar suas verdadeiras adesões de fé, que são centradas em perspectivas mundanas sobre o "poder dos homens" de realizar no mundo os feitos inspirados por suas ideologias.

Assim, um esquerdista usa citações bíblicas ou patristicas para defender as obras assistencialistas do estado, para condenar o acumulo de riqueza, para defender o desarmamento civil, o fim da pena de morte, e etc...

Igualmente, um direitista vai fazer uso de sua seleção de citações bíblicas e patristicas para defender que o estado(e mesmo o homem comum) não realize qualquer obra assistencial, para defender o acumulo de riqueza e o luxo, para defender o uso de armas por qualquer um e a pena de morte, e etc...

E como tal coisa é possível ? Será o cristianismo contraditório ?

Não, de forma alguma.


O "x" da questão é que o cristianismo autentico pressupõe a liberdade dos indivíduos.

E assim, ainda que exista claros apontamentos sobre o caminho a se seguir, não ha nesses qualquer imposição inexorável como se deve caminhar.

E é justamente assim em razão de ser o cristianismo de fato uma forma de se viver, e não uma "doutrina", que pretende atuar na vida dos seus adeptos.

Vamos hoje neste artigo centrar nossas atenções na assistência social estatal.

Afinal de contas, o investimento de dinheiro publico, no combate a extrema miséria, tem sustentação no nexo cristão? Ou isso "é coisa de comunista" ?

Deve ser algo  claro para um cristão :A  miséria, a fome do seu vizinho, é algo aviltante, sofrido e mesmo inaceitável para ele. Um cristão não pode ser feliz quando o seu vizinho é um miserável. Não importa as razões que levaram o seu vizinho a ser um miserável.

Pois se o cristão deve ver a cada homem como um "ícone do Cristo", como se faz possível ver o Cristo na miséria e não perder a alegria ?

O ponto em questão é que a miséria do seu vizinho o deve incomodar de um modo tal, que  mesmo a legitimidade do seu básico se torna comprometida.

É importante que aqui tratamos de miséria e não de pobreza. Pois se um cristão tem  apenas um teto, vestimentas, um cobertor para o frio, e comida para seus filhos,  ele é um pobre. Mas em sua pobreza, ele tem o básico.  Daí que mesmo para ele, é simplesmente inaceitável que o seu vizinho não tenha ao menos esse mesmo básico.

O que então sentirá o cristão, que tem mais do que o básico, diante da miséria alheia ?
 
 
O pecado da insensibilidade.

Quando um cristão simplesmente não vê como inaceitável que o seu vizinho não tenha essa básico, em geral ele começa a justificar a sua dureza de coração, apontando para as culpas do seu irmão que vive na miséria.

Muitas vezes ele está correto em apontar que o miserável  se acomoda, que não luta com o suficiente denodo para superar as limitações materiais da vida, e que mesmo vive a esperar, de forma parasitaria, o auxilio de outros.

Tal inercia  é de fato, um problema espiritual de muitos.

Contudo, como qualquer um que sofre dos efeitos de uma doença física deve ser antes de tudo auxiliado para que obtenha a cura (ou mesmo o alivio mínimo de suas mazelas), aqueles que sofrem de uma doença espiritual devem também receber um auxílio, para a cura ou mesmo para que não padeçam tanto em razão de suas moléstias.

Assim como o individuo cristão não deve se conformar com a miséria do seu vizinho (e aqui estamos falando da falta do básico material), o estado que representa todos os cristãos(em uma sociedade cristã) não deve deixar de ser um meio de auxilio ao miseráveis, ao menos naquilo que atende a erradicação da  miséria.

Logo, não há qualquer dúvida, que um estado que promova ações de auxilio aos miseráveis, que permita a essas pessoas  ter ao menos um teto, vestimentas essenciais, alimentação básica, e acesso a remédios e tratamentos médicos essenciais, não está fazendo nada em contrário ao cristianismo, mas ao contrário, está dando um bom cumprimento a coleta dos impostos dos cristãos, restituindo uma parte do que arrecada em vestir os nus, alimentar os famintos, dar abrigo aos que nem isso tem.

Os cristãos então deveriam é cobrar do estado o atendimento dessas obras, para o melhor uso dos impostos coletados, e nunca reclamar sobre o uso do “seu dinheiro” para o “custeio de parasitas”.

Se um cristão ao andar por uma rua recebe o pedido de um mendigo por um trocado para comer, ele deve antes de dar os seus cinqüenta centavos, questionar o mendigo sobre a razão dele não ter estudado quando criança ? Ou sugerir ao mendigo levantar-se e procurar lavar um automóvel em troca de um prato de comida ?

Eu passo por uma rua e uma mulher com filhos pequenos me pede uma ajuda qualquer, qualquer trocado para poder alimentar os seus filhos. O que penso ? Por qual razão ela se permitiu ter filhos se não consegue alimentar nem  a si mesma ?

Em que momento cabe a esmola, se o cristão sempre olhar o mendicante como um “vagabundo aproveitador” ?  Ou como um "estorvo humano" ?
 
 
Esse olhar duro é o avesso do olhar cristão.

Eu não devo julgar a razão para o mendigo estar naquela situação (que muito provavelmente, é obvio, conta com a responsabilidade dele), o que importa antes de tudo, é que aquele individuo está passando por uma situação de vida extremamente crítica, e que naquele momento, o  mais importante para mim é o ajudar a mitigar um pouco o seu sofrimento.
 

Mas então o critico diz : “Assim, incentivamos a mendicância...”

Bom, será necessário compreender, que aquele que se vê incentivado a viver como um mendigo em razão de receber as migalhas do seu próximo, é de fato alguém muito necessitado de ajuda.

Estamos aqui tratando do emergencial, e não do luxo.

O auxílio no básico, no essencial, nunca será uma medida de incentivo a manutenção da miséria, mas sim é uma medida de erradicação da mesma.

Novamente : Não se trata de erradicar a pobreza.  Isso nem mesmo deveria ser um desejo, pois ha sem dúvida, uma "pobreza cristã", plenamente desejável.

Aqueles que então são fracos (ou mesmo incapazes) de conseguir a partir da obtenção do mínimo material, buscar mais pelas próprias forças, vão viver na pobreza, mas vão ter ao menos o essencial.

A pobreza do próximo, não deve ser motivo de angustia para mais ninguém, pois de certo, aquele que deseja o supérfluo, não deve exigir do seu irmão um esforço nesse sentido.

É importante então caracterizar, que não será um anseio cristão, a igualdade plena de todos os indivíduos, no que diz respeito aos seus bens materiais ou sobre tudo aquilo que ultrapasse o básico.

Pois obviamente o estado vai de fato criar um malefício social e mesmo praticar um  pecado, se passar a custear com os impostos arrecadados algo para alem do atendimento ao básico,  pois assim  desta forma, realmente estará criando um incentivo a  fraqueza dos indivíduos, com base no suor dos que trabalham.  


Claro, a televisão, a roupa bonita, o mobília bem trabalhada, o videogame,  isso não é um dever do estado bancar, e nem mesmo é uma obrigação de cada cristão prover ao seu vizinho. São os frutos que virão do esforço de cada um, na medida de suas potencialidades.

Esse anseio (de uma igualdade material para alem do básico) é sim estranho ao nexo cristão e deve mesmo ser refutado como uma ilusão materialista. 

Contudo, tal ilusão  deve ser considerada  apenas como sendo o extremo oposto do igualmente errado sentimento de total insensibilidade a miséria alheia.

Ambos não se baseiam no cristianismo, mas sim são deturpações dele.

Assim, em uma sociedade verdadeiramente cristã, o estado deve ser um canal de auxilio aos miseráveis, de modo que nenhum individuo morra de frio em razão de não ter um teto, um cobertor, que não morra de inanição por não ter ao menos o pão de cada dia.

E o limite do discernimento é esse : O amor cristão não pode permitir a miséria, mas deve ver a pobreza ou a riqueza como uma conseqüência do esforço de cada um.

Desta forma,  tendo tal discernimento, o incentivo ao trabalho individual, ao esforço pessoal para se obter algo para alem do mínimo, nunca será contrastado com a aplicação de um senso de responsabilidade social por parte do estado, que apenas representa os anseios de uma coletividade de cristãos, pois se ele usa parte do que arrecada com os impostos para evitar a miséria dos mais fracos (em um sentido mais amplo), ele não faz nada alem de dar um uso cristão aos impostos, e nisso cumprir sua função.


Deve igualmente o estado, no cumprimento do seu dever de representar os anseios da coletividade cristã, não permitir que os recursos advindos dos impostos sustentem algo para alem do básico para os necessitados, para que este auxilio caritativo não se transforme em um  veneno.


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