domingo, 10 de março de 2013

Papas na História

Giuseppe Sarto, a eleição de um santo (I).
 
 
Iniciamos hoje uma série sobre a eleição ao Sólio Pontifício de São Pio X, que esperamos concluir até a eleição do novo Sumo Pontífice.
 
 

 
Os eleitores entraram em conclave na sexta-feira, 31 de julho de 1903, às 5 da tarde. Os cardeais poderiam ser acompanhados por duas pessoas, diante dos quais eles manteriam o mais absoluto sigilo: um “conclavista” e um “guarda nobre”. O Cardeal Sarto escolheu Monsenhor Bressa como seu conclavista e o Conde Stanislao Mucciolli como seu guarda nobre.

 
A cargo do conclave estavam o Decano do Sagrado Colégio e Camerlengo, Cardeal Oreglia de San Stefano, o único purpurado vivo criado por Pio IX. Monsenhor Merry del Val, presidente da Academia de Nobres Eclesiásticos, era o secretário do conclave. Monsenhor Cagiado de Azevedo e o Príncipe Mario Chigi eram, respectivamente, governador e marechal do conclave.
 
Sessenta e dois cardeais se reuniram na Capela Sistina para proferir o juramento

[Dos 62 cardeais presentes no conclave, dois (Herrero e Cretoni) estavam doentes e tiveram que permanecer na cama; eles não puderam estar presentes nas sessões de votação na Capela Sistina.]

 
A Sistina servia tanto como lugar de orações quanto espaço para a contagem dos votos. Ao se aproximar às 8 da noite, os cerimoniários percorreram os corredores lançando o famoso brado extra omnes (“todos fora!”) enquanto o Cardeal Oreglia e seus assistentes se certificavam de que todas as portas estavam fechadas e todas as frestas lacradas, de modo que não pudesse haver comunicação entre os cardeais e o mundo de fora.

 
No dia seguinte, o Cardeal Sarto contou a seu secretário que não havia conseguido dormir. Ele passara grande parte da noite em oração. Na manhã do primeiro dia, após a chamada Missa “de comunhão” — os cardeais não celebravam a Missa, mas assistiam a celebração do Cardeal Decano e recebiam a Comunhão de suas mãos –, ocorreu a primeira votação.

 
A eleição ao Sumo Pontificado não pode ser comparada às eleições políticas que ocorrem nas democracias. Enquanto pode haver encontros entre cardeais antes e durante o conclave, não há “campanha eleitoral”– ou ao menos não deveria haver. Não há candidatos, promessas ou acordos — ou ao menos não deveria haver. Antes de cada voto, os cardeais proferem um juramento, com as mãos sobre os Evangelhos, de votar segundo as suas consciências: “Chamo por testemunha a Cristo, que um dia será meu Juiz, de que estou votando naquele que, diante de Deus, acredito ser o mais digno de ser eleito”. Há uma outra diferença: a eleição não se dá por uma simples maioria de votos. Para ser eleito, o futuro papa precisa ter alcançado dois terços dos votos. O novo papa não deve aparecer como tendo sido eleito por um partido em oposição a outro: deve haver o maior consenso possível.

 
Historicamente, os conclaves foram mais curtos ou mais longos. Três escrutínios foram necessários para eleger Leão XIII e sete para eleger aquele que tomaria o nome de Pio X. O curso do conclave que elegeu este último é bem conhecido pelos relatos de vários participantes, em escritos publicados logo depois do conclave ou postumamente: os cardeais franceses Mathieu e Perraud, o conclavista Maurice Landrieux, o secretário do conclave Merry del Val. A estas fontes podemos acrescentar a reconstrução feita pelo biógrafo “autorizado”, Marchesan.

 
Os resultados obtidos pelos três principais “candidatos” ao longo de sete votações podem ser assim apresentados:


[Marchesan e as outras fontes citadas concordam quanto ao número de votos, em cada escrutínio, do principal papabile. Por outro lado, há divergência ou silêncio sobre o número de votos dos candidatos secundários. Damos aqui os números fornecidos pela embaixada francesa na Santa Sé, AMAE, NS 4, f. 36-37).]

 
1 de agosto
2 de agosto
3 de agosto
4 de agosto
Manhã
Tarde
Manhã
Tarde
Manhã
Tarde
manhã
Rampolla
24
29
29
30
24
16
10
Gotti
17
16
9
3
6
7
2
Sarto
5
10
21
24
27
35
50


Para ser completo, deve-se notar que os cardeais Serafino Vannutelli, Oreglia di San Stefano, Capecelatro, Di Pietro, Agliardi, Ferrata, Cassetta, Portanova, Segna, Tripedi e Richelmy receberam, cada um, um ou mais votos no primeiro ou seguintes escrutínios. Mas eles nunca se encontraram entre os favoritos e no sétimo e último escrutínio apenas os cardeais Sarto, Rampolla e Gotti estavam na contagem. Sarto obteve 5 votos na primeira votação e 10 na segunda, o que o instigou a dizer, em latim, ao cardeal Lecto, que estava ao seu lado: “Volunt jocare super nomen meum” (“Eles querem fazer uma piada com o meu nome”).
 
 
Saint Pius X, Restorer of the Church, Yves Chiron, Angelus Press, 2002, pp. 119-121 | Tradução: Fratres in Unum.com. As notas com meras remissões bibliográficas foram excluídas.

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