terça-feira, 16 de dezembro de 2014

ESPIRITUALIDADE



Alma inquieta, alma amante, alma amada


“Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4,16). Estas palavras são o eco dos mais íntimos sentimentos que brotam do coração do discípulo amado como um canto triunfal. Com palavras parecidas estremece a alma de Santa Teresinha quando expressa sua fé no Amor Infinito de Deus. Sua santidade, sua doutrina, toda a sua vida, são a manifestação dessa fé. A fé no Amor, fé firme, sensível, ingênua, é a essência do espírito de Teresinha, seu mais íntimo segredo.
Fala-se muito, e não sem fundamento, do amor de Teresa a Deus Nosso Senhor. O amor é o motor de seus atos, o término da sua perfeição; seu selo característico. Teresa é amor filia vivente, o Evangelho vivido. “Nada me deu Deus, senão amor”. “Já lhe disse: o único que vale é o amor”. Porém quando perguntada qual foi à raiz, o verdadeiro segredo desse amor a Deus, ela vai dizer: “A fé no Amor de Deus”. A razão deste esquecer-se de si e entregar-se é que ela vive esta fé com sensibilidade, com tão encantadora naturalidade e profundidade, que sentimos sua influência sem questionamentos.
A oração nada mais é do que “uma amizade com quem sabemos que nos ama”. Na grande mente contemplativa, a condição primeira e indispensável para que reine essa amizade entre Deus e a sua alma é, que deve partir dela uma fé firme no Amor que Deus tem por ela. Fé divina que traz a certeza e segurança de que é amada pelo Todo Poderoso.

Ela viveu essa grande verdade, não podia pensar em Deus sem pensar na luz da grande expressão de São João: “Deus é amor”. Não diz isso apenas da boca para fora, mas da sua vivência. Quando pequena ficou órfã de mãe, e adquiriu a experiência do amor a Deus, a partir do amor a seu pai, um amor paterno, cheio de ternura e solícito. A partir disso pode dizer que Deus é bom, que Deus é nosso Pai, sua alma de menina se sente naturalmente inclinada a representar Deus na imagem do seu pai na terra. Assim Deus se apresenta ao seu espírito e, sobretudo, ao seu coração como um verdadeiro Pai, o Pai que mais ama, que mais tem terno que sintetiza em Si mesmo a verdadeira e autêntica Paternidade no seu mais alto grau.

A atmosfera em que viveu e se expandiu a alma de Teresa, foi desde o princípio, a fé no amor paternal de Deus, no amor de Deus seu Pai, diante do qual se vê como uma pobre criança. Nesta fé encontra-se a raiz de onde brota toda a sua vida espiritual com suas virtudes características: amor, humildade, confiança, abandono alegre. Estas virtudes, tão sensíveis e tão evangélicas, são como o fruto espontâneo da fé no Amor de um Deus Bom. Ele mesmo depositou na alma de Teresa, com um grão de mostarda destinado a converter-se em árvore frondosas.
Alma privilegiada! Diriam alguns. Certamente! Porém seu privilégio consistiu não tanto em haver recebido esse dom, mas em compreender o que havia recebido. Por isso, como ela nos ensinou, temos o mesmo privilégio: somos objetos do amor paternal de Deus nosso Pai. Sua vida é sensivelmente uma vida de fé, fé essencialmente evangélica, fé no amor de Deus a humanidade. Sua alma tem a certeza de que é infinitivamente amada. E para corresponder a este chamamento do amor, só tem um desejo, um ideal: amar! A fé pura é um farol que a ilumina e a sua luz caminha sem quietude, sem vacilar.

Quando as sombras invadem seu espírito, será também sua fé, fé certa do Amor do seu Pai, quem vai guia-la e sustenta-la. Esclarece-nos ela mesma: “É tão doce servir a Deus na noite da tribulação!”. “Não temos mais que esta vida para viver de fé”. A prova suprema foi a eclipse de sua fé durante um ano e meio: “por que este eclipse?”. Quis, sem dúvida, Deus nosso Senhor purificar a fé de Teresa, aperfeiçoar sua alma, despojando-a de todo o sensível e intelectual. Assim chegou a consumação da santidade.

A fé evangélica é um olhar ao amor, dela brota a inteligência das coisas divinas. “Creio para entender”.

Leandro Koenig

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