segunda-feira, 22 de abril de 2013

Debate sobre juventude reafirma luta contra mudança na maioridade penal

Levar a juventude a tornar-se protagonista na sociedade. Esse foi o tema do debate realizado na noite de quarta-feira (17) no plenário da Câmara de Guarulhos, sob a coordenação do Padre Antonio Carlos Frizzo. No ano em que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu a juventude como tema da Campanha da Fraternidade, vários integrantes do Setor Juventude Católico participaram do encontro. 

Frizzo havia proposto ao titular da Coordenadoria da Juventude, Wagner Hosokawa, a elaboração de um diagnóstico da situação da juventude guarulhense em relação aos equipamentos públicos e programas mantidos pela Prefeitura. Hosokawa optou por um relato de abrangência nacional. 

DIAGNÓSTICO 

Ele começou abordando a importância da aprovação do Estatuto da Juventude pelo Senado. ”Quando for sancionado, o Estatuto vai abrir uma nova porta para a juventude no Brasil. Estarão lá algumas das nossas lutas, que garantem direitos à faixa-etária de 15 a 29 anos”, afirmou. Após lembrar lutas de décadas passadas, Hosokawa abordou a pauta atual. “Estamos vivendo de novo um enfrentamento. A juventude não vai aceitar a redução da maioridade penal. Essa situação vai penalizar o jovem da periferia”, avalia. Em Guarulhos, segundo ele, são 329 mil pessoas na faixa-etária. 

Nas estatísticas e mapas da violência da segurança pública, os negros e pobres seguem na condição mais vulnerável. “Os jovens negros continuam desaparecendo no Presidente Dutra, no São João, no Taboão. Eles estão sendo exterminados”, afirmou. 

Para o coordenador da Juventude, as redes sociais deveriam ser o espaço de liberdade de expressão, mas virou o espaço do consumismo. O aspecto positivo, disse Hosokawa, é a intolerância contra o racismo nas redes sociais. 

Segundo ele, vários colégios da rede estadual fecharam o período noturno, prejudicando diretamente estudantes do Ensino Médio, que tiveram as vagas reduzidas. “Sessenta e cinco mil alunos estudam à noite e precisam desse horário”, informou. Hosokawa citou também um Mapa da Violência do Ministério de Justiça, com dados de 2013, no qual Guarulhos ocupa a 44ª posição. 

Por fim, ele relatou a existência de dois grandes movimentos juvenis no cenário nacional: o levante da juventude, que surgiu para perseguir os torturadores da ditadura, que não foram punidos até hoje, e a Jornada Nacional da Juventude que elencou dez pontos prioritários. No estado de São Paulo, a luta é pelas cotas. “Nós queremos as vagas, como já está garantido no Rio de Janeiro e na Universidade de Brasília (UnB)”, disse. “Cota é reparação aos netos e bisnetos de escravos”, complementou. 

Do público surgiram perguntas sobre a falta de espaço de lazer, de cultura, de entretenimento em bairros da periferia, bem como a dúvida sobre o volume orçamentário investido na faixa-etária em questão. 

Hosokawa reconheceu algumas deficiências, mas defende a criação da própria Coordenadoria da Juventude como uma demonstração da Administração em priorizar a área. Ele disse desconhecer o percentual do orçamento gasto especificamente com a Juventude. “Todas as Secretarias e Coordenadorias têm programas, mas não sei quanto isso representa”, disse. 

DESAFIO 

O representante da Comissão Nacional da Campanha da Fraternidade, Toninho Evangelista, disse que a Igreja também tem dificuldade de compreender a juventude, pois os processos a cada década são bem diferentes. Ele acredita que os jovens se reúnem pela Internet e demonstram insatisfação, sim, com o modelo educacional. “O grande desafio é elaborar perguntas que atendam aos anseios da juventude”, disse. 

Segundo Evangelista, no fim da primeira infância, aos seis anos, a criança já assistiu 7,5 mil horas de TV, enquanto isso o professor segue na sala de aula com, praticamente, os mesmos recursos do século passado na tarefa de ensinar aos alunos. “Para a Igreja, o desafio é perceber no outro o rosto de Deus e fazer com que o outro perceba o rosto de Deus em nós”, concluiu. 

ASSASSINATOS 

O Padre Giovanni Banchio, assessor Diocesano da Juventude, falou sobre o assassinato de 30 jovens no bairro Jardim Presidente Dutra, nos meses de junho e julho do ano passado. “Preocupa a violência que está dizimando os jovens. Preocupa a situação das escolas estaduais. Chama atenção a falta de propostas culturais. Fazer teatro em Guarulhos é coisa para mártires ou santos”, disse. 

Banchio informou também sobre a preparação para a Jornada da Juventude. Segundo ele, a Diocese de Guarulhos poderá acolher três mil jovens. “Até o momento temos pouco mais de 700 inscritos”, contou. 

O coordenador do Setor Juventude Diocesano, Anderson Gonçalves Nascimento, disse que a expectativa é que a Jornada Mundial da Juventude, prevista para julho na cidade do Rio de Janeiro, reúna 2,5 milhões de jovens. “Não queremos que se transforme em evento midiático, clerical ou que sirva para o Rio de Janeiro fazer uma limpeza social”, explicou. Anderson disse que o desejo é que a Jornada sirva para transformar o jovem e a realidade atual. 

Durante o encontro, o músico Cesar, do Hip Hop, apresentou-se com músicas tendo a Juventude e a situação de violência como tema. Cesar contou também sobre um projeto realizado com crianças de escolas públicas cujo foco é a discussão sobre drogas e violência.

por Renata Moreira
Foto: Nico Rodrigues

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