Acusação de si e propósito de emenda, após cair naquele que sabemos ser o pecado que nos assedia constantemente
Ó meu amantíssimo Deus, eu, ingrato e arruinado, depois de vagar perdido por atos proibidos, volto para vós. Procuro o vosso amor, eu que vos fiz meu inimigo. Pequei novamente. Tantas vezes antes eu tinha caído, agora caí novamente. Ah, Senhor, naquele exato pecado que vós tanto detestais (e eu sabia disto), meu pior pecado; nesse exato pecado eu caí novamente.
Ó, eu sabia da necessidade que eu tinha de vigilância, e ainda assim não tive cautela. E ofendi a vossa majestade, ó Deus. Eu perdi a vossa graça, perdi o Céu, arruinei-me. E por quê? Por nada, por mera vaidade, por qualquer que seja o prazer (o proveito, etc) que persegui?
Eu sabia, ó Senhor, que vós mereceis meu amor acima de todas as coisas; eu reconheço, ó meu Deus, que vossa Lei e vossa honra, ó meu Deus, devem ser mais caras a mim que todas as criaturas; e ainda assim amo tão loucamente a mim mesmo, que, de novo e de novo, pus meu insignificante crédito, ou ganho, ou deleite, acima de vós, de vossa honra, de vossa Lei.
Ah, como ainda sou carnal! e embora eu o negue, minhas obras condenam-me. O mundo não está crucificado em mim; ele vive e respira com plena força em mim; estou cheio de más inclinações, desejos imundos, concupiscências e miséria infinita, e ainda nada tenho de humilde, amo ser admirado e estimado.
Minha vida é um mero vai e vem, a mais mera inconstância e mutabilidade; meus sentidos vão errando, licenciosos, por onde querem. Ó, quão variadas e imundas imaginações continuamente rondam e infestam minha alma! Que pedra dura e imóvel sou eu, ó meu Deus, quando se fala de penitência, e ainda quão pronto para falar ao acaso! Quão surdo para as admoestações saudáveis à alma e quão ávido para fofocas e ninharias; e quão estranhas e desgostosas soam as palavras que falam de Deus e do Céu, mas quão abertos são meus ouvidos para os ganhos terrenos e os confortos corporais!
Quando estou a rezar, isto aborrece-me inteiramente; mas as festas nunca parecem impróprias. Sou uma tartaruga no Culto de Deus, e mais veloz que uma águia para os esportes e lazeres. Rastejo para o que é bom, e tenho asas para o mal; pronto demais para suspeitas e invejas, mas quão duro para desculpar meu próximo!
Indulgente e leve para comigo; rigoroso e severo para com os outros. Se apenas me tocam, fico em chamas, e pelo menos minha língua, se não minhas mãos, está pronta para golpear; ninguém causa-me dano, mas começo a pensar em como poderei vingar-me.
E quanto às chamas da luxúria, ó Deus, vós sabeis como elas me envolvem. Posso escondê-las e dissimulá-las aqui, mas a vós, Olho do mundo, tudo está descoberto; não há segredo do coração que possa ser oculto a vós.
Quantas vezes tenho me decidido, e quão grandes resoluções! E então quão estranhamente, sim, quão maldosamente todas elas foram esquecidas!
Que eu bem possa lamentar que vivo de forma tão deplorável, sim, e lamentar o fato de lamentar tão pouco, e que nem sinto minha miséria como deveria.
Eis que tenho sido um preguiçoso na religião, rápido e ativo para o pecado. Senhor, eu não serei mais assim. Eu deixarei de ser eu mesmo, este eu que tenho sido. Eu disse: "Agora eu começo". Nenhum homem empreende feliz sua caminhada para o Céu, se não começa todo dia.
Confiando, portanto, em vosso auxílio, ó Senhor, proponho firmemente fugir de meus velhos pecados e de toda ocasião de pecar, com toda a minha força. Ó, possa esta mudança acontecer pela Destra do Altíssimo.
Meu Deus e meu Senhor, criai em mim um coração limpo e puro; renovai, ó Senhor, um espírito reto em mim; possa eu enfim emendar seriamente a minha vida, amar-vos do fundo do meu coração e, assim, perseverar até o fim da vida.
Fonte: HORST, Jacob Melo. Paradise of the Christian Soul.
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