Por que Deus testa nossa fé?
Mas, por que Deus procura provar a nossa fé? Porque Ele quer que cresçamos no amor. A Primeira Leitura do Domingo (1 de março) mostrou o exemplo luminoso de Abraão, que, para obedecer a Deus, está disposto a sacrificar o seu próprio filho. Diante da prova a que o Senhor o coloca, o patriarca não questiona em nenhum momento o decreto divino.
Mesmo não entendendo nada, sabe que Deus é bom e que o ama, e esta fé no Seu amor é suficiente para que ele suba o Monte Moriá para entregar Isaac. Sua atitude fê-lo merecer o título de “pai da fé”.
Escrevendo sobre o mistério da Transfiguração, o famoso autor francês Dom Prosper Guéranger considera que Jesus queria preparar os Seus discípulos para a difícil provação que eles enfrentariam na Páscoa. Incipientes na fé – basta lembrar que São Pedro tinha acabado de fazer sua primeira profissão em Cristo (cf. Mt 16, 16) –, eles precisavam ser fortalecidos para suportar a hora da prova. Cristo, então, misericordiosamente Se transfigura diante deles.
O objeto principal da fé é, pois, o amor de Deus. Abraão não cria em uma teoria abstrata ou num conjunto de ideias, mas em uma Pessoa. Nós, cristãos, também, ainda que professemos os conteúdos do Credo todos os domingos, cremos nessas verdades de fé por causa d’Aquele que as revelou, Nosso Senhor Jesus Cristo, e por Seu amor.
De fato, o que realmente distingue o bom cristão é a fé no amor divino. Na existência de Deus, simplesmente, até o demônio acredita. São Tiago escreve que “também os demônios crêem e tremem” (Tg 2, 19).
A Tradição nos recorda que os anjos, quando foram criados por Deus, também foram postos à prova. Ao contrário do que muitos podem pensar, eles não foram imediatamente agraciados com a visão beatífica. Fosse assim, seriam de tal modo atraídos, que perderiam a sua liberdade, e, como Deus quer de Suas criaturas um amor livre, Ele Se esconde e pede a sua fé.
Certa vez, então, o Senhor colocou os seres angélicos à prova. Qual era o objeto dessa provação? Os Santos Padres cogitam que, talvez, Deus lhes tenha mostrado que eles deviam servir ao homem Jesus. Lúcifer, então, em sua soberba, deu o brado de non serviam: ele sabia que Deus existia, mas não creu no Seu amor.
São Miguel, um simples arcanjo, com sua humildade, respondeu dizendo: “Quem como Deus?” – que é o significado de seu nome, em hebraico. Com isso, o anjo – invocado como “príncipe da milícia celeste” – dava uma lição aos seus congêneres rebeldes e a todos nós: quando não se entende a bondade de Deus, é preciso mergulhar na fé e crer no Seu amor.
Ao subir o Tabor e transfigurar-se à vista de Pedro, Tiago e João, Nosso Senhor dá uma prova de amor aos Seus discípulos, a fim de prepará-los para a provação que se aproximava, na Cruz. Do mesmo modo, quando Deus nos manda Suas graças, Seus presentes e Seus “carinhos” – a conversão de uma pessoa, um milagre, a transformação da própria família etc. –, tratam-se de “transfigurações”, “manifestações de Tabor”, feitas para que também nós nos preparemos para as provações na fé.
E estas são inevitáveis. Todos seremos provados. Importa que, diante das provas, nos coloquemos na presença de Deus e, mesmo sem entender, reconheçamos o Seu amor; que, diante das tempestades, digamos com fé: “Senhor, eu não Vos compreendo, mas eu Vos amo”.
O salmista canta, na liturgia desta Domingo: “Guardei a minha fé, mesmo dizendo:/ “É demais o sofrimento em minha vida! É sentida por demais pelo Senhor/ a morte de seus santos, seus amigos”. É preciso crer que Deus “sente” e chora conosco a nossa morte e o nosso sofrimento. À famosa pergunta: “Mas, se Ele é onipotente, por que permite o mal?”, não se responde senão apontando para o mistério: são verdadeiramente insondáveis os desígnios divinos.
O fato, porém, é que Deus não é indiferente à nossa dor. A Segunda Leitura diz que “Deus não poupou seu próprio Filho”. O Senhor, que poupou Isaac, não poupou Jesus. Isso quer dizer que o próprio Deus passou pelo sofrimento, experimentou, na Cruz, o abandono por parte dos homens, sofreu por causa de nossa ingratidão e falta de amor. O mesmo Deus que Se mostrou glorioso no Tabor se escondeu no mistério da Cruz.
Que sejamos capazes de imitar a Virgem Maria, nossa “mãe na fé”. Se Abraão foi grande nessa virtude, porque subiu o monte Moriá para sacrificar seu filho, mas este foi poupado, Maria foi maior que Abraão, porque subiu o Calvário, pronta para entregar o seu Filho e Deus, desta vez, não O poupou. Subamos com os discípulos, neste Domingo, a montanha sagrada do Tabor, para subirmos com Nossa Senhora, na Páscoa, o Calvário.
Fonte: https://igrejamilitante.wordpress.com
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