quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Deus é maior que Elvis



50 anos após seu último Oscar, Madre Dolores Hart passa novamente pelo tapete vermelho do Teatro Kodak, rumo ao Academy Awards 2012. Sendo a primeira atriz a beijar Elvis Presley na telona, deixou o glamour de Hollywood para tornar-se uma irmã beneditina, em 1963. É a única freira do mundo com direito ao voto na Academia de Artes e Ciências Cinemátográficas. Neste ano, um documentário sobre sua vida concorreu ao prêmio de melhor documentário curta-metragem, com o nome de “Deus é maior que Elvis”.
Leia mais no Ignem in Terram, o blog do Pe. Demétrio.




Abortemos a lei, não a vida


Desde que me lembro como gente sou fã de Chaves e Chapolin. Como todos os brasileiros, posso afirmar que esta série teve importância especial na minha infância. Na verdade, não seria demais dizer que ainda tem grande importância hoje, já que seu humor simples e despretensioso incrivelmente ainda faz muito sucesso, continuando a transmitir aqueles valores já há muito esquecidos pela nosssa sociedade.

Abaixo, deixo três vídeos  produzidos para a campanha da coalisão mexicana Denme Chance (Dê-me uam chance), que encontrei no Deus lo Vult. Fizeram com que aumentasse ainda mais a minha admiração para com este comediante tão querido na América Latina.


Mensagem de Chespirito (Roberto Bolaños) acerca do aborto, via Deus lo vult:



Coroinhas

 Queridos coroinhas (de todas as Capelas), não esqueçam que no próximo domingo dia 04 de março teremos a nossa primeira tarde de oração do ano.



Local: Santa Teresinha

Horário: 15h

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Os Sacramentos: Matrimônio

O Matrimônio é um Sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, que estabelece uma união santa e indissolúvel entre o homem e a mulher, e lhes dá a graça de se amarem um ao outro santamente, e de educarem cristãmente seus filhos.

O Matrimônio foi instituído pelo próprio Deus no Paraíso terrestre; e no Novo
Testamento foi elevado por Jesus Cristo à dignidade de Sacramento.

O Sacramento do Matrimônio significa a união indissolúvel de Jesus Cristo com a Santa Igreja, sua esposa e nossa Mãe amantíssima.

Diz-se que o vínculo do Matrimônio é indissolúvel, isto é, que não se pode quebrar senão pela morte de um dos cônjuges, porque assim o estabeleceu Deus desde o começo, e assim o proclamou solenemente Jesus Cristo, Senhor Nosso.

No Matrimônio entre cristãos o contrato não se pode separar do Sacramento, porque para eles o Matrimônio não é outra coisa senão o mesmo contrato natural, elevado por Jesus Cristo à dignidade de Sacramento. Entre os cristãos não pode haver verdadeiro Matrimônio que não seja Sacramento.

O Sacramento do Matrimônio produz os seguintes efeitos:

1º dá um aumento da graça santificante;
2º confere a graça especial para se cumprirem fielmente todos os deveres matrimoniais.

Para quem pensa que é o Padre o Ministro do Sacramento do Matrimônio, se enganou.

OS MINISTROS do Sacramento do Matrimônio são os mesmos esposos, que reciprocamente conferem e recebem o Sacramento.

Este Sacramento, porque conserva a natureza de contrato, é administrado pelos mesmos contraentes, declarando na presença do próprio pároco, ou de outro Sacerdote devidamente autorizado, e de duas testemunhas, que se unem em matrimônio.

Para que serve então a bênção que o pároco dá aos esposos?
A bênção que o pároco dá aos esposos não é necessária para constituir o Sacramento, mas é dada para sancionar em nome da Igreja a sua união, e para atrair sempre mais sobre eles as bênçãos de Deus.

Quem contrai Matrimônio deve ter intenção:

1º de fazer a vontade de Deus, que o chama a tal estado;
2º de procurar nele a salvação da própria alma;
3º de educar cristãmente os filhos, se Deus lhos der.

Os esposos, para receber com fruto o Sacramento do Matrimônio, devem:

1º encomendar-se de todo o coração a Deus, para conhecer a sua vontade e para alcançar d’Ele as graças que são necessárias em tal estado;
2º consultar os próprios pais, antes de chegar ao noivado, como o exige a obediência e o respeito devido aos mesmos;
3º preparar-se com uma boa confissão, até mesmo geral, se for necessário, de toda a vida;
4º evitar toda a familiaridade perigosa de trato e de palavras, ao conversarem mutuamente. antes de receberem este Sacramento.

Obrigações das pessoas unidas em Matrimônio:

1º guardar inviolada a fidelidade conjugal, e proceder sempre cristãmente em tudo;
2º amar-se mutuamente, suportando-se um ao outro com paciência, e viver em paz e harmonia;
3º se têm filhos, cuidar seriamente de prover às suas necessidades, dar-lhes educação cristã, e deixar-lhes a liberdade de escolher o estado de vida a que Deus os chamar.

Condições e impedimentos do Matrimônio

Para contrair VALIDAMENTE o Matrimônio cristão é necessário estar livre de qualquer impedimento matrimonial dirimente, e dar livremente o próprio consentimento ao contrato do Matrimônio na presença do próprio pároco ou de um Sacerdote devidamente autorizado, e de duas testemunhas.

Para contrair LICITAMENTE o Matrimônio cristão, é necessário estar livre dos impedimentos matrimoniais impedientes, estar instruído nas verdades principais da religião, e estar em estado de graça. Se não estiver em estado de graça, isto é, sem pecado, deve se confessar, pois casar com pecado grave é cometer um sacrilégio.

Os impedimentos matrimoniais são certas circunstâncias que tornam o matrimônio ou inválido ou ilícito. No primeiro caso chamam-se impedimentos dirimentes, no segundo impedimentos impedientes.

Impedimentos dirimentes são, por exemplo, a consangüinidade até ao terceiro grau, o parentesco espiritual, o voto solene de castidade, a diversidade de culto entre batizados e não batizados etc.

Impedimento impediente é, por exemplo, o voto simples de castidade etc.

Os fiéis são obrigados a manifestar à autoridade eclesiástica os impedimentos matrimoniais que conhecem; e é por isso que os párocos fazem as publicações, isto é, lêem os pregões dos que se vão casar.

Só a Igreja tem o poder de estabelecer impedimentos e de julgar da validade do Matrimônio entre os cristãos, como só a Igreja pode dispensar daqueles impedimentos que Ela estabeleceu, por que só a Ela conferiu Jesus Cristo direito de promulgar leis e decisões acerca das coisas sagradas.

O vínculo do Matrimônio cristão não pode ser dissolvido pela autoridade civil, porque esta não pode ingerir-se em matéria de Sacramentos, nem separar o que Deus uniu.

O casamento civil não é mais que uma formalidade prescrita pela lei para os cidadãos, a fim de dar e de assegurar os efeitos civis aos casados e aos seus filhos.

Um cristão não pode celebrar somente o contrato civil, porque este não é Sacramento, e portanto não é um verdadeiro matrimônio.

Os esposos que convivessem juntos, unidos somente pelo casamento civil, estariam em estado habitual de pecado mortal, e a sua união seria sempre ilegítima diante de Deus e da Igreja.

Deve fazer-se também o contrato civil, porque, embora não seja ele Sacramento, serve, no entanto, para garantir aos casados e a seus filhos os efeitos civis da sociedade conjugal; eis porque, como regra geral, a autoridade eclesiástica não permite o casamento religioso, quando não se cumprem as formalidades prescritas pela autoridade civil.

Catecismo de São Pio X

Publicado também no Blog Jovens e Namoros

Tudo converge para o Amor

Entre todos os dons, o único que não acaba jamais é o do Amor. Da mesma forma só permanecerá o que for feito no Amor. Até a fé vai acabar um dia. Só permanecerá o que for feito no Amor e através do Amor. Tudo o que vem do Amor é perene, não se apaga, nem se ufana.

Hoje você precisa cuidar de sua casa: varrer, cozinhar, passar. Amanhã tudo isso irá desaparecer, porque novamente será preciso varrer, cozinhar, passar. Mas o Amor com que você fez estas tarefas permanece. Tudo vai passar: só o Amor fica. O Amor tem que existir em cada ato que façamos, tem que ser um íntimo e dedicado exercício interior.

Por isso, é preciso ser esperto e colocar amor em tudo que fazemos, para não perdermos nada; para não perdermos tempo. A vida é feita de alegrias e tristezas, de realizações e sofrimentos. Nem tudo serão rosas. Enfrentaremos espinhos: repetir todos os dias o dever rotineiro de trabalhar, limpar, lavar, cozinhar, pôr a mesa, calar-se diante de uma injustiça... Só entrará no Céu o que estiver revestido do Amor. Todo o resto ficará de fora.

Deus soprou o Seu Espírito sobre o barro e pôs nele o Seu Amor. Este Amor será levado para o Céu; o barro ficará. Depende de cada um de nós ganhar ou perder tudo aquilo que temos direito.

Podemos realizar feitos grandiosos, mas sem Amor, nada seremos. Só o Amor com que foram feitas todas as coisas pernamecerá. A medida de “tudo” é o Amor. É por isso que, com Amor, tudo sou. Sem Amor, nada sou.

Deus abençoe você!
Seu irmão,
Monsenhor Jonas Abib
Coluna Guarulhos Web- Reflexão

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

De Pedro para nós

“O tempo do deserto pode transformar-se em tempo de graça”

“Esta situação de ambivalência descreve também a condição da Igreja no caminho no ‘deserto’ do mundo e da história. Neste deserto, nós cristãos temos certamente a oportunidade de fazer uma profunda experiência com Deus que faz forte o espírito, confirma a fé, nutre a esperança, anima a caridade; uma experiência que nos faz participantes da vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte mediante o sacrifício de amor na cruz. Mas o ‘deserto’ é também o aspecto negativo da realidade que nos circunda: a aridez, a pobreza das palavras de vida e de valores, o secularismo e a cultura materialista, que fecham a pessoa no horizonte mundano do existir diminuindo toda referência à transcendência.

É este também o ambiente no qual o céu que está sobre nós é obscuro, porque está coberto pelas nuvens do egoísmo, da incompreensão e do engano. Apesar disso, também para a Igreja de hoje, o tempo do deserto pode transformar-se em tempo de graça, já que temos a certeza que também da rocha mais dura, Deus pode fazer brotar água vida que mata a sede e restaura.”

- Papa Bento XVI, Audiência Geral
22 de fevereiro de 2012

Postado por Everth Queiroz Oliveira

A China que você desconhece

China: mudanças que não mudam
 
Há anos que a China se tornou uma unanimidade. Como todas as unanimidades, em que entra a propaganda, junto a banalidades – repetidas como grandes dados do saber – esgueiram-se mistificações e inverdades.

Pergunte-se o leitor o que ouve dizer sobre a China nos meios de comunicação ou nas rodas de conversa de que participa.

Dirão que a China é o País mais populoso do mundo; que sua cultura é milenar; que a Muralha da China pode ser vista da Lua; que a China caminha para se tornar a grande potência do futuro. Tornou-se ainda voz corrente afirmar que o regime chinês tem passado por mudanças profundas, que seu crescimento econômico é avassalador, que algumas de suas cidades se encheram de arranha-céus, de viadutos, de automóveis, de gente que está imersa no estilo de vida frenético contemporâneo.

Natureza das mudanças
É bem verdade que se questionarmos no que consistem precisamente tais mudanças, as respostas de muitos serão vagas ou generalistas.

Mencionarão a adoção do “capitalismo” pela China e elogiarão o espírito pragmático de seus dirigentes, que fizeram o país encher-se de oportunidades de negócios, dando abertura para investidores estrangeiros e criando oportunidades de chineses ingressarem nas atividades empresariais; outros mencionarão ainda as Olimpíadas de Pequim, o evento internacional de grande projeção simbólica que teria definitivamente consagrado a entrada da China na chamada modernidade.

Poucos se referirão à corrida armamentista da China, ao neo-imperialismo chinês na África e na América do Sul, às práticas pouco honestas no comércio internacional, à ofensiva geo-política em busca de petróleo, de minério de ferro e de outras matérias primas, à violação sistemática de segredos industriais de grandes companhias, ao regime de trabalhos forçados ou de baixa remuneração, ao desrespeito aos direitos mínimos dos trabalhadores e às milhares de revoltas sociais, ou ainda ao sistema ditatorial de partido único do regime comunista chinês.

Mudou a natureza ideológica do regime?
Ninguém nega que mudanças estão ocorrendo na China, embora elas não correspondam à ideia simplista que das mesmas fazem muitos ocidentais. Os dirigentes chineses falam do “socialismo de mercado”, uma fórmula em que o Estado está presente no capital de todas as empresas e em que a estratégia de investimentos é decidida pelo Politburo do Partido. Mas isso seria tema para outro artigo.

A meu ver uma pergunta fundamental se impõe: basta um regime de Partido Único, o Partido Comunista Chinês, empreender algumas mudanças sócio-econômicas, para se poder afirmar que a natureza profunda de sua ideologia – ateia e materialista – mudou substancialmente?

O que mais chama a atenção é que muitos católicos ocidentais dão aval – por vezes de modo eufórico – à tão difundida versão de que a China mudou, que ela renunciou à sua ideologia e aderiu pragmaticamente à economia de mercado. Será que a maior parte desses católicos tem noção de qual é a realidade vivida por seus irmãos de fé na China?

Creio bem que se impõe uma reflexão a respeito.

Perseguição sistemática aos católicos
Desde a revolução maoísta que levou o Partido Comunista Chinês a tomar o poder em 1949, os católicos passaram a viver sob a perseguição e o terror. As táticas e estratégias repressivas sofreram adaptações ao longo dos anos, inclusive com a criação de uma organização fantoche, a chamada Igreja Patriótica, rompida com Roma e totalmente dependente do regime. Apesar de todas as mudanças que se operaram na China a perseguição aos católicos recrudesceu, e eles continuam obrigados a praticar a religião na clandestinidade, como se vê, por exemplo, na foto da Missa que ilustra este post.

Gostaria, pois, de compartilhar com os leitores do Radar da Mídia a substanciosa entrevista concedida em Roma pelo Pe. Bernardo Cervellera, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, à revista de cultura católica Catolicismo (nov. 2011). Considerado o maior especialista romano sobre a Igreja na China, o Pe. Cervellera foi Professor da Universidade Beida, em Pequim, foi diretor da Agência de imprensa vaticana “Fides” e atualmente é o diretor da prestigiosa Agência AsiaNews:
Catolicismo — Circularam ultimamente muitas notícias sobre um esfriamento das relações entre a China e o Vaticano. O que há de certo nisso?

Pe. Cervellera — Sou convidado algumas vezes a participar de encontros com industriais italianos que me perguntam sobre a China. Quando me refiro às perseguições que sofrem lá os católicos, ficam surpresos. Porque hoje muitíssimas pessoas possuem uma imagem turística da China, aliada a uma noção confusa oriunda de notícias que informam sobre a quantidade de arranha-céus construídos nas grandes cidades, da existência de grande número de automóveis Ferrari, do aumento da renda média do trabalhador chinês, etc. Pensam tais pessoas que, pelo fato de a China estar apresentando aparentes mudanças do comunismo para o capitalismo, a situação dos direitos humanos também se alterou. Acompanho há 20 anos a situação chinesa e posso afirmar que, se do ponto de vista geográfico muita coisa mudou (novas autopistas, condomínios, trens, etc.), por outro lado, a perseguição religiosa manteve-se sempre constante.

Houve há poucos meses sagrações ilícitas de bispos, ou seja, sem mandato papal. Nos últimos quatro anos ocorreram cinco dessas sagrações. Alguns bispos débeis ou timoratos foram obrigados a participar das mesmas, tendo sido conduzidos à força pela polícia. Isto é algo que não se registrava desde a época da Revolução Cultural dos anos 50 e do início do maoísmo. Época na qual se tentava criar uma igreja nacional composta de padres e bispos sob a direção do Partido Comunista Chinês. Na teoria, uma igreja independente de Roma; na prática, dependente do governo comunista. Perguntei recentemente a um católico chinês sobre a mudança de rumo do governo. Ele simplesmente respondeu-me dizendo que para os estrangeiros parece que a China mudou, quando ela, de fato, sempre foi assim. Há uma perseguição contínua, cuja extensão pode ter variado um pouco, mas nunca cessou desde que os comunistas tomaram o poder em 1949.Catolicismo — Os bispos chineses fiéis ao papado continuam sendo presos?

Pe. Cervellera — Por uma sugestão de Stalin a Mao Tsé-Tung, o Partido Comunista Chinês quis inicialmente exterminar a Igreja, mas isto não funcionou. Criaram então, em 1957, a Associação Patriótica, a qual ficou encarregada pelo Partido Comunista de controlar a Igreja. Já o Papa Pio XII condenou essa associação em 1958 e declarou que os bispos que sagrassem outros bispos escolhidos por ela estavam excomungados. Todos os bispos que se opuseram, nos anos 50, a essa manobra comunista, terminaram na prisão, sendo obrigados a permanecer 20 ou 30 anos sob o regime de trabalhos forçados. Por exemplo, o bispo de Xangai, D. Ignatius Kung; o bispo de Booding, D. José Fan Xueyan; o bispo de Cantão, D. Dominic Tan Yee-Ming, e tantos outros. Há ainda vários bispos “clandestinos” — ou seja, que se negam a fazer parte dessa Associação Patriótica — os quais se encontram nas mãos da polícia. É o caso, por exemplo, de D. Jacobo Su Zhimin, há 15 anos nessa situação. Ele está desaparecido e sem sinais de vida. E isso só por não querer fazer parte da Associação Patriótica. Também o bispo de Yixian, D. Cosme Shi Enxiang, encontra-se nas mãos da polícia há 10 anos. De forma totalmente ilegal, apesar das poucas leis existentes na China. Estamos preocupados, porque muitos bispos que a polícia fez desaparecer, reapareceram depois... mortos.Foi o caso, entre outros, de D. José Fan Xuyean, bispo de Booding. Após passar três meses nas mãos da polícia, em 1992, seu cadáver foi deixado diante da porta de sua casa, envolto em papel celofane. Seus familiares constataram que ele tinha sido torturado brutalmente, a ponto de ter uma de suas pernas quebrada. Era um ancião de 90 anos, que já havia passado 32 anos na prisão.Há poucos anos ocorreram outras mortes. Em 2007, alguns meses antes das Olimpíadas (esta celebração da modernidade da China...), um dos prelados da província Hebei, D. Giovanni Han Dingxian, bispo de Yongnian, reapareceu num hospital após seis anos de detenção. Seus familiares encontraram-no moribundo. De fato, ele faleceu às 23 horas daquele mesmo dia. Seu corpo foi cremado e sepultado às 5 horas da manhã, sem a presença dos familiares. Os fiéis julgam que a cremação foi efetuada para evitar as provas que derivariam da autópsia.

Catolicismo — Qual é a situação atual dos bispos “subterrâneos”, considerados “ilegais” pelo regime comunista?

Pe. Cervellera — Existem na China 37 bispos “subterrâneos”, ou seja, que não pertencem à igreja oficial, controlada pela Associação Patriótica. Esses bispos encontram-se em prisão domiciliar; estão isolados, não podem exercer seu ministério. O mais velho deles é o bispo de Zhengding, D. Julio Jia Zhiguo, muito estimado pela população. Ele mantém 200 meninos abandonados, sobretudo deficientes físicos, que não são aceitos por motivos culturais. O bispo lhes proporciona roupa e alimento, cuida dessas crianças com a ajuda de algumas freiras. Ele é vigiado dia e noite por quatro policiais, para que não possa sair de casa nem se encontrar com quaisquer pessoas. Sua “culpa”: não querer renunciar a seus vínculos com o Papa. Muitas vezes é preso e levado para “férias” forçadas, a fim de receber doutrinação política do Partido Comunista sobre a grandeza de seu programa e de como se deve dar adesão ao mesmo.Atualmente até os bispos da igreja oficial — de obediência ao governo — estão na mira do Partido Comunista. Não é uma perseguição na qual eles são conduzidos a campos de trabalhos forçados ou fuzilados, mas são controlados. Desde 2006, quando das novas sagrações ilegais, eles são seguidos e controlados em suas viagens pastorais. Por que este medo do governo? É que, graças ao trabalho dos Papas, quase todos esses bispos da igreja oficial — sagrados mediante intervenção do partido e sem permissão papal — escreveram ao Vaticano pedindo perdão pela sua situação, tendo sido reintegrados na comunhão católica. Quando o Papa Bento XVI escreveu uma carta aos católicos da China, em 2007, ele a enviou indistintamente aos bispos da Igreja Católica, não fazendo distinção entre aqueles que eram fiéis e os que não eram.

Catolicismo — Se há tantos bispos que tiveram de pedir perdão ao Papa por estarem ligados à Associação Patriótica, por que o governo tem tanto medo deles?

Pe. Cervellera — Porque a Igreja Católica chinesa é hoje muitíssimo mais unida que no tempo da Revolução Cultural ou nos anos 80. Este é o ponto importante e o que explica o aumento da perseguição. A unidade da Igreja na China é um dos grandes fracassos do Partido Comunista Chinês. Nos anos 50 eles queriam destruir todas as religiões. Convencendo-se de que não o conseguiam, tentaram então criar religiões nacionais — seja a budista, a islâmica, ou igrejas protestantes nacionais. E, transcorridos 60 anos, na prática, a Igreja Católica é hoje mais unida do que antes. É por isso que a Associação Patriótica — cujo novo presidente é paradoxalmente um bispo em comunhão pessoal com o Papa — deseja a sagração de bispos ilegítimos, a ponto de forçar um bispo excomungado a ser presidente de um organismo subordinado a ela, a conferência dos bispos da igreja patriótica. Este é um modo de misturar as coisas, criar divisão e confusão generalizada.A situação é muito dura. Os bispos oficiais [subservientes ao regime] e os “subterrâneos” [obedientes a Roma] são muito controlados. Fiscalizam-se todos os seus encontros e discursos, são levados à força a reuniões onde os obrigam a ouvir dissertações sobre a política do partido, além de serem isolados, para não receberem o reconforto e o apoio da Igreja.

Em maio, por ocasião da festa da Padroeira da China — Nossa Senhora de Sheshan, próximo de Xangai — Bento XVI pediu orações pela Igreja naquele país e, sobretudo, pelos bispos, para que não defeccionem. E para que não sejam derrotados pela tentação de oportunismo, ou seja, de uma vida cômoda e de não perseguição. Uma vida tranquila é melhor do que uma vida isolada. E a Associação Patriótica exerce esse tipo de perseguição, vencendo o coração pelas suas debilidades. Infelizmente, há pessoas que por oportunismo desejam se tornar bispos, ou seja, ser promovidas a tais pelo partido, receber honrarias, uma residência cômoda e nova e, de vez em quando, lembrar-se do Papa na oração. É preciso rezar muito por elas.

Catolicismo — Poder-se-ia então afirmar que o Partido Comunista está preocupado porque não consegue controlar a Igreja?

Pe. Cervellera — O partido não está tão preocupado com o controle da Igreja Católica quanto com a difusão dela. O cristianismo difunde-se muitíssimo na China. E isso não obstante serem necessários três a seis meses de catecismo, assistência à missa, participação nas orações, etc. Há anualmente pelo menos 150.000 adultos – não nos referimos às crianças – que se fazem batizar. Enquanto o governo prega que a riqueza é o mais importante, as pessoas procuram a vida espiritual. Este é o motivo da perseguição. Enquanto os direitos humanos forem comer, beber, vestir, etc., o partido pode controlar. Ele pode permitir que se construa uma casa ou que se vista com roupas Armani; permite a satisfação das necessidades materiais. Mas quando surgem necessidades espirituais, o partido não sabe o que fazer e teme que as pessoas escapem de seu controle. Para os comunistas, as religiões devem ser controladas ou eliminadas. Isto cria problemas para o partido, porque na China está ocorrendo um grande renascimento religioso. Nós afirmávamos isto anos atrás e não nos davam crédito. Hoje se trata desse tema com frequência, existindo abundante documentação a respeito. Fala-se do regresso de Deus à China. As pessoas procuram algo mais do que o materialismo.

Catolicismo — Que tipo de pessoas se convertem ao catolicismo?

Pe. Cervellera — Todo tipo de pessoas. Mas existe uma categoria que chama especialmente a atenção. Convertem-se ao catolicismo antigos — e dos mais ardorosos — membros do Partido Comunista, que estão desiludidos pelo que ali se faz. Eles vêm que estão nas mãos de um grupo que os utiliza para ganhar dinheiro — com o qual, por sua vez, financiam o partido para que este controle o povo. Notam haver uma grande simbiose entre capitalismo e comunismo. Estão desiludidos com a insensibilidade do partido diante das necessidades das pessoas. O salário dos trabalhadores é dez vezes menor que no Ocidente, não existem auxílios de seguridade social, etc. Estes desiludidos aproximam-se da Igreja. Por exemplo, um ativista que criou um sindicato não oficial e que havia estado no massacre da Praça de Tiananmen tornou-se católico.

Catolicismo — Existe alguma possibilidade real de a Igreja mudar a situação na China?

Pe. Cervellera — O que teme o partido é que haja uma fusão entre a busca dos valores espirituais e a tensão dentro da sociedade. Existe nisso algum nexo. Esta tensão aparece em situações que são relativamente pouco conhecidas, mas na China há anualmente 180 mil rebeliões sociais. O governo as chama de “incidentes de massa”. São pessoas que se rebelam devido às injustiças, porque confiscaram suas casas, contaminaram os rios e não há água para beber, por problemas de transporte, saúde, etc.

Os ex-comunistas que se tornam religiosos procuram alguma dignidade para as pessoas, e o fundamento para isso é religioso. O homem possui direitos inalienáveis. Ao Estado incumbe reconhecê-los, e não se arvorar em deter poderes para concedê-los ou não. Se o homem não tivesse uma dimensão religiosa ele seria apenas um objeto nas mãos do poder. As pessoas procuram os fundamentos espirituais do direito do homem. Um advogado cristão que defendia pessoas perseguidas por sua fé, foi sequestrado pela polícia, torturado, colocado em situação de isolamento, sem poder comer, etc. Ao ser liberado, em junho último, ele denunciou tudo quanto sofreu. Isso antes não acontecia. As pessoas começam a denunciar os maus tratos recebidos e perdem o medo que tinham. Para o governo, esta mistura de rebelião social aliada à busca de fundamentos religiosos e de coragem pode ser fatal.

Catolicismo — É conhecido o dito de Tertuliano de que “o sangue dos mártires é semente de cristãos”. O Sr. conhece algum caso na China que nos pudesse contar?

Pe. Cervellera — Recentemente entrevistei um chinês que acabava de se converter ao catolicismo. Eu queria saber o que o havia levado a abraçar a fé. Ele contou-me que tudo começou quando a polícia deteve um de seus vizinhos. Intrigado sobre o motivo da detenção de alguém tão tranquilo e normal como esse vizinho, foi perguntar aos familiares dele. Estes lhe disseram que havia sido preso por ser católico. Isto chamou sua atenção, pois o que podia uma fé ter de importante quando o mais valorizado na sociedade era possuir bem-estar material, comodidades e reconhecimento social? Como não entendia, começou a estudar os fundamentos de nossa Religião e constatou que a fé é o bem mais importante da vida. É por ela que arriscamos tudo o que temos. É a mais preciosa pérola. Como resultado, decidiu se converter e foi batizado. O martírio de um católico conduz à conversão de outros.
Perseguição à Igreja: fruto do pragmatismo
É curioso que aqueles mesmos que se referem, de boca cheia, ao pragmatismo dos dirigentes chineses parecem não se perguntar algo de muito importante: por que motivo os dirigentes comunistas, que demonstram pragmatismo em fazer certas mudanças no sistema econômico, continuam a perseguir de modo brutal e inclemente os católicos? Não fará isso também parte do seu pragmatismo? Não verão os dirigentes comunistas chineses nos valores religiosos, morais, culturais e sociais representados pela doutrina do Evangelho uma ameaça ao seu projeto de poder materialista e neo-imperialista?

Em vez de nos mostrarmos tão inconsequentemente eufóricos e desprevenidos diante das mudanças da China, aceitando essa invasão branca dos capitais, do comércio e da diplomacia chineses, não seria interessante questionarmos o verdadeiro sentido de toda essa transformação e do tão decantado pragmatismo chinês?

Para os católicos, creio, esse questionamento não constitui apenas um interesse, mas um dever. Afinal, nossos irmãos na Fé são os mártires de nosso século. Na China, as mudanças não mudaram uma realidade trágica para os católicos. Este martírio, curiosamente, é geralmente silenciado. Parece-me um dever de quem tem Fé preocupar-se com o destino dos irmãos nessa mesma Fé. Por isso também os convido a difundir este post de todas as formas possíveis, para que a realidade chinesa seja inteiramente conhecida.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Experiência de Deus

Capítulo proferido por D. Armand Veilleux, OCSO, a 7 de fevereiro de 1999, na Abadia Notre-Dame de Scourmont, em Forges, Bélgica.

Na "Declaração sobre a Vida Cisterciense" do Capítulo Geral de 1969, texto que marcou um ponto de inflexão na vida de nossa Ordem, diz-se que "nossa vida é inteiramente orientada para a experiência do Deus vivo". Gostaria de refletir um pouco com vocês sobre o que existe por detrás desta expressão: "experiência do Deus vivo".


Sua experiência de Deus foi uma síntese -ativamente estabelecida e mantida- entre uma percepção humana de um lado, e de outro, uma fé que avançava bem para além desta percepção. Sua experiência de Deus não era o sentimento ou o conjunto de sentimentos que poderiam ter na presença de Jesus, mas a síntese destes sentimentos com sua fé. E esta síntese tinha efeitos profundos e permanentes em suas vidas.

O mesmo ocorre com nossa experiência de Deus. Ela é sempre indireta: ela é sempre transmitida através dos sacramentos, isto é, através de sinais que devem ser interpretados na fé.


Podemos também fazer por vezes a experiência de grande confusão e perturbação interior. Estes dois gêneros de experiência se passam em geral na aurora de uma nova conversão. Trata-se, de todo modo, de pontos de inflexão em nossas vidas, de momentos de crise onde o nosso psiquismo precisa ele próprio, ser convertido.


Antes dele, trabalhos publicados pelos psicólogos se baseavam sobretudo no estudo de pessoas doentes e na análise de suas necessidades, seus problemas e suas lutas. Maslow decidiu estudar também pessoas que eram sadias psicologicamente, que eram felizes e haviam tido sucesso em suas vidas. Analisou o comportamento destas pessoas e se interessou particularmente pelos "pontos de inflexão" em suas vidas, pelas experiências particularmente vivas e pungentes que haviam transformado suas existências. Chamou-as com o nome de peak experiences. Descreveu cerca de vinte características de tais experiências, das quais quase todas tinham uma dimensão religiosa.

Por exemplo, 1) o objeto de tais experiências é percebido como algo de absoluto, que não tem necessidade de justificação; 2) tais experiências convencem que a vida vale a pena ser vivida; 3) são percebidas como um dom, ou em linguagem cristã, como uma graça; 4) têm um poder de cura.

Tudo isto é bom e belo. Contudo, o perigo reside em que, em muitos movimentos culturais ou religiosos contemporâneos, depois dos anos 60, considera-se muito facilmente tais experiências como experiências religiosas e mesmo, como experiências de Deus. Isto é um erro. Um sentimento artístico diante da beleza, um movimento de amor intenso em presença de uma pessoa querida, uma inclinação generosa pelo que é grande e absoluto, ou ainda, um sentimento de comunhão com o universo ou com um grupo de pessoas - tudo isto é admirável e pode facilmente conduzir a uma experiência religiosa, mas ela não é em si isto.

Pode ser apenas a atualização da dimensão religiosa de nosso psiquismo humano. Uma experiência religiosa mesmo extática não é necessariamente uma experiência de Deus. Além disto, tais experiências religiosas podem ser provocadas, quer por circunstâncias felizes da vida, quer por drogas ou por fenômenos grupais. Podem ainda ser provocadas pela recitação de fórmulas de oração, por jejuns, pela ascese física, por flagelações, etc.

Estas experiências podem ser muito boas nelas mesmas; podem mesmo levar a um encontro com Deus. … importante contudo dar-se conta de que elas não são em si mesmas uma experiência de Deus. Temo que, por vezes, se induziu em erro cristãos e cristãs sinceras ensinando-lhes métodos de oração que conduziam a tais estados psicológicos e fazendo-os crer que tais estados psicológicos já eram a oração, enquanto não eram mais do que um prelúdio, muitas vezes útil, ao dom da oração.

Certas pessoas, após sua conversão, tiveram por certo tempo um tipo de experiências muito gratificantes, e quando elas não mais ocorrem, pensam que Deus as abandonou. Ou outras pessoas fazem tais experiências gratificantes durante sua oração privada, mas jamais durante o Ofício Divino, e assim concluem erroneamente que o 'Opus Dei' não as aproxima tanto de Deus quanto a sua oração privada ou meditação. Ou ainda certos padres sentem falta dos grandes sentimentos de devoção quando celebram sua missa privada em relação quando eles a concelebram, e daí concluem que são mais fortemente unidos a Deus em suas missas privadas do que na missa comunitária.

Um belo exemplo de experiência de Deus é a do Apóstolo Paulo. O que lhe acontece no caminho de Damasco foi certamente uma experiência de ponta (peak experience). Este foi um momento muito importante em sua vida. Mas Paulo esteve certamente também intensamente unido ao Cristo durante todos os anos seguintes de sua vida e não apenas neste momento particular. E este também não foi uma experiência isolada. Havia sido preparada por outra e foi seguida de outra.
Com efeito, quando Paulo se dirigia pelo caminho de Damasco, seu coração estava cheio de agressividade contra os cristãos, não porque fosse um homem mau, mas ao contrário, porque era fiel às tradições segundo as quais havia sido formado. Estava cheio de agressividade, pois se sentia ameaçado por esta nova fé que opunha às suas tradições mais caras nas quais fora ensinado. Era pelo amor de Deus que perseguia os inovadores.  
O verdadeiro choque que o colocou abaixo foi a pergunta: "Por que ME persegues?" Um Deus que se identificava com os perseguidos: este foi o verdadeiro choque para o judeu Paulo de Tarso. Paulo se preocupara até aquele momento em manter uma separação entre judeus e pagãos. Quando despertou, ou quando Ananias lhe abriu os olhos, Paulo poderia fazer o que tanto convertidos quanto pseudo-convertidos fazem: poderia se colocar a destruir o que ele havia servido, mas com a mesma paixão, e se colocar a adorar o que ele havia destruído, mas com a mesma intolerância. Poderia então ter mudado um "eu" por um outro "eu".
A única alteração verdadeira foi a identidade daqueles que o perseguiam. Ao contrário, a despeito do fato de que os primeiros cristãos sofriam a forte tentação de reforçar sua identidade e de buscar sua coesão na luta agressiva contra os judeus, projetando sobre eles seu complexo de culpa e tornando-os responsáveis pela morte de Jesus, Paulo utilizou toda sua energia e uma grande parte de seus escritos para mostrar que os judeus são e permanecerão uma parte integral do plano de salvação.




Na vida cristã, as experiências extraordinárias (às quais dá-se facilmente o nome de experiências místicas) não tem valor espiritual particular. São indicadores na caminhada. Nada além disto. E muitas coisas que podemos facilmente considerar como experiências místicas podem ser apenas simples estados psicológicos. Fazemos a experiência de Deus, não através de estados psicológicos particulares, mas por meio de uma conversão contínua, levada a efeito por uma observância de disciplina cotidiana. No Cristianismo, há dois modos (dentre outros) de compreender a contemplação. Uma, disseminada no Ocidente, e que se enraiza na filosofia grega, sobretudo neoplatônica, considera a contemplação como a atividade suprema do espírito. A outra, a compreensão bíblica, vê a contemplação numa relação contínua entre Deus e seu povo, ao longo de sua história. A experiência de Deus, nesta perspectiva, não é algo que se produza de quando em quando na vida, em momentos fortes, mas algo que está sempre presente tão frequentemente e por tanto tempo, que estamos unidos a Deus no amor, na fidelidade a todas as nossas obrigações e tarefas cotidianas.


© Abbey of Scourmont, 1999

Traduziu: Cecilia Fridman, Rio Negro, PR, Brasil, para o Mosteiro Trapista Nossa Senhora do Novo Mundo, 31 de março de 1999.

O Evangelho fala também de iluminação e Jesus se refere ao olho do coração quando diz: "O olho é a lâmpada do corpo. Então, se teu olho está são, todo teu corpo estará na luz; mas se teu olho não está são, todo teu corpo estará na treva. Se a luz em ti é treva, quão grande será a treva!" (Mt 6,22-23). O mesmo tema da iluminação se acha ao longo de todo o 4o. Evangelho, no qual o homem cego descobre que Jesus é a luz do mundo. Um budista pratica uma disciplina rigorosa e não será feliz se não atingir o satori ou a iluminação ao menos alguma vez, ou em todo caso, uma vez na vida. Só o momento conta verdadeiramente para ele. Para o cristão, isto é diferente. A experiência de Deus não é alguma coisa que somos chamados a ter em alguns momentos privilegiados de nossa vida. … algo que deve ser permanente e constante. E a isto se chega através da Metanoia, ou seja, da conversão do coração.
Uma das razões de interesse contemporâneo no Ocidente em tais experiências de ponta, deve ser buscada no interesse crescente pelo budismo. No budismo, todos os esforços são orientados para a experiência do Satori, que é a experiência de pico por excelência. Todo o budismo foi construído sobre a iluminação de Buda, sob a árvore Bodhi em Bodh Gaya no século sexto a.C. … um acontecimento que todo budista deseja repetir em sua vida. Para ele, esta iluminação é o despertar do terceiro olho, o olho do coração. Quando o olho interior está aberto, adentra-se na verdadeira sabedoria.

Em nossos dias, fala-se muito de experiências de ponta ou de pico ('peak experiences' em Inglês), e tende-se a lhes dar uma importância muito grande, como se elas fosse um objetivo na vida. Parece que o primeiro a ter utilizado esta expressão inglesa foi o psicólogo americano Abraham Maslow em 1962.
Na nossa vida espiritual, há comumente períodos de alegria e de consolação, seguidos por períodos de obscuridade . Deus não está mais presente ou mais ausente num ou noutro. Podemos também fazer a experiência, durante nossa vida, de momentos fortes, momentos breves (flashes) de intuição ou de iluminação quando, por exemplo, nos é dado subitamente compreender certas palavras da Escritura.
Na origem da fé cristã há um grupo de homens e de mulheres que, encontrando-se com Jesus de Nazaré, fizeram a experiência de Deus. Viram Jesus, ouviram-no, tocaram-no, admiraram-no e o amaram, e pouco compreenderam, e alguns dentre eles, o seguiram. Como encontraram Deus nele? Santo Agostinho tem a respeito uma bela resposta? "Viram o homem e creram em Deus".

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Os pecados contra o Espírito Santo

Além dos pecados mortais (pecados graves) e dos pecados veniais (pecados leves), há uma outra qualificação de pecados justamente por serem pecados especiais e com um alcance de malicia diferenciado... Irei tratar mais abaixo dessa qualificativa diferenciada.

Os pecados mortais (que são pecados graves) nos afastam de Deus e nos levam ao inferno. Somente através de uma boa confissão é que somos perdoados. Para se fazer uma boa confissão é preciso ter fé que o padre tem o poder de absolver-te (poder esse dado pelo próprio Jesus Cristo: Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos - São João 20, versículo 23). É preciso também estar arrependido de ter pecado e prometer nunca mais faze-lo novamente.

Os pecados veniais (que são pecados leves, como, por exemplo, uma pequena mentira, que não prejudique ninguém, uma gulodice que não traga prejuízos sérios à saúde, etc...) também nos afasta de Deus, mas não merecemos o inferno por causa deles, por que são culpas leves. Se morrermos com pecados veniais, iremos pagar nossas culpas no purgatório, e depois iremos ao céu. Sendo Deus puríssimo, inadmissível que se fique em Sua Divina presença com alguma mancha por menor que seja. Os pecados veniais são perdoados rezando-se um Ato de Contrição, ou com arrependimento praticando um outro ato de piedade.

Mas no entanto, por causa do alto grau de malícia que existe em alguns tipos de pecados, recebem um outro tipo de qualificação. Como, por exemplo, “Pecados que Bradam aos Céus e clamam a Deus por vingança” (homicídio voluntário, por exemplo).

Mas hoje, em especial, irei tratar dos PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO para os quais não há perdão.

Os pecados contra o Espírito Santo são seis, e chamam-se estes pecados particularmente pecados contra o Espírito Santo, porque se cometem por pura malícia, o que é contrário à bondade que se atribui ao Espírito Santo (Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã de São Pio X):

1º - Desespero de salvação: Ocorre quando a pessoa já pecou tanto que entra em desespero achando que não há mais salvação para ela. Fica convencida de que não há mais solução e que seu destino é o inferno. NOTE-SE QUE NESTE CASO A PESSOA NÃO SE CONFESSA POR QUE ACREDITA QUE NÃO ADIANTA, E QUE ESTÁ DEFINITIVAMENTE CONDENADA.

2º - Presunção de salvação sem merecimento: Ocorre quando a pessoa se acha muito virtuosa que pensa que já está no céu e por isso por mais que possa ter feito algum pecado, Deus lhe perdoará. Implica num sentimento de orgulho achando de que está salva pelo que já fez na vida. NOTE-SE QUE NESTE CASO A PESSOA NÃO SE CONFESSA POR QUE ACHA DESNECESSÁRIO; ACREDITA QUE JÁ ESTÁ SALVA.

3º - Negar a verdade conhecida como tal: Ocorre quando a pessoa se julga “dona da verdade” e por isso não aceita as verdades da fé por puro orgulho. NOTE-SE QUE NESTE CASO A PESSOA NÃO SE CONFESSA POR QUE ACHA QUE ESTÁ CERTA E QUE NÃO HÁ NADA A SE CONFESSAR. NEM CONSIDERA O PECADO DE DUVIDAR DAS VERDADES DA FÉ, OU MESMO NEGAR AS VERDADES DA FÉ. A PESSOA ACHA QUE ESTÁ CERTA E QUE ESSA CERTEZA É ABSOLUTA. CONSIDERA QUE SABE MAIS DO QUE A PRÓPRIA IGREJA E COM ISSO NEGA QUE O ESPÍRITO SANTO AUXILIA O SAGRADO MAGISTÉRIO DA IGREJA.

4º - Inveja da graça fraterna: Ocorre quando a pessoa tem inveja da graça que Deus dá a outrem. O invejoso irrita-se por que o seu próximo conseguiu algo de bom e por isso revolta-se contra Deus. É o caso de Caim e Abel. Caim matou Abel por inveja. NOTE-SE QUE NESTE CASO A PESSOA NÃO SE CONFESSA POR QUE ESTÁ REVOLTADA CONTRA DEUS E NÃO HÁ ARREPENDIMENTO EM SEU CORAÇÃO.

5º - A obstinação no pecado: É quem peca não por fraqueza, mas por malícia. Peca não por que simplesmente teve tentação, mas por que AMA pecar. ORA, SE AMA PECAR, NÃO SE CONFESSA, POR QUE QUER CONTINUAR NO PECADO.

6º - A Impenitência final: Não é difícil de entender este pecado, pois uma pessoa que vem pecando a vida inteira, no final de sua existência continua sendo impenitente e não arrependido de tudo o que fez de mal. É a suprema e final rejeição à Deus. Mesmo estando no fim da vida e sabendo que vai morrer, a pessoa não quer mudar de vida. ESTA NÃO SE CONFESSA POR QUE REJEITA DEUS ATÉ NESTA HORA EXTREMA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Como pode se ver, os pecados contra o Espírito Santo são pecados de pura malícia, não de fraqueza, ou seja, a vontade da pessoa está endurecida de uma tal forma que ela JAMAIS SE CONFESSARÁ por que NÃO QUER SE CONFESSAR. Deus dá a todos a chance de se salvar e ir ao céu, mas quem peca contra o Espírito Santo não quer sair da situação em que se encontra, então Deus não pode salvar quem não quer se salvar, e por isso mesmo não tem perdão.

O QUE DIFERENCIA OS PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO DE OUTROS PECADOS É A VONTADE DA PESSOA, NÃO O ATO EM SÍ... OU SEJA, É A VONTADE QUE FAZ COM QUE A PESSOA NÃO QUEIRA MUDAR DE VIDA. Por isso se peca contra o Espírito Santo por ato de pura malícia, não por mera fraqueza.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Os Sacramentos: Confirmação ou Crisma

A CONFIRMAÇÃO, ou CRISMA, é um Sacramento que nos dá o Espírito Santo, imprime na nossa alma o caráter de soldados de Cristo, e nos faz perfeitos cristãos.

O Sacramento do Crisma aperfeiçoa em nós os dons recebidos no Batismo, por isso se chama CONFIRMAÇÃO. Os dons do Espírito Santo que recebemos na CONFIRMAÇÃO, são sete:

1º Sabedoria,
2º Entendimento;
3º Conselho;
4º Fortaleza;
5º Ciência;
6º Piedade;
7º Temor de Deus.

A MATÉRIA deste Sacramento, além da imposição das mãos do Bispo, é a unção feita na fronte da pessoa batizada, com o santo Crisma (um óleo bento especialmente para isso); por isso, este Sacramento se chama também Crisma, que significa Unção. O santo Crisma é óleo de oliveira misturado com bálsamo, e consagrado pelo Bispo na Quinta-Feira Santa.

A FORMA deste Sacramento é esta: “Recebe o sinal do dom do Espírito Santo, que substituiu a antiga: Eu te assinalo com o sinal da Cruz, e te confirmo com o Crisma da salvação, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Assim seja.”

O MINISTRO é só o Bispo.

O Bispo, para administrar o Sacramento da Confirmação, primeiro estende as mãos sobre os que estão para se crismar, invocando sobre eles o Espírito Santo; em seguida faz uma unção em forma de cruz com o santo Crisma na fronte de cada um, dizendo as palavras da forma; depois, com a mão direita, dá uma leve bofetada na face do crismado, dizendo: “A paz seja contigo”; e no fim abençoa solenemente todos os crismados. Dá-se uma leve bofetada na face do crismado para que saiba que deve estar pronto a sofrer todas as afrontas e todas as penas pela fé e amor de Jesus Cristo.

Também na CONFIRMAÇÃO há padrinhos e madrinhas, para que estes, com as palavras e com os exemplos, orientem o crismado no caminho da salvação e o auxiliem nos combates espirituais. O padrinho deve ser de idade conveniente, católico, crismado, instruído nas coisas mais necessárias da religião e de bons costumes; e deve ser do mesmo sexo que o crismado. O padrinho de Crisma também contrai parentesco espiritual com o crismado; mas este parentesco não é impedimento para o matrimônio.

Fonte: Catecismo de São Pio X

De Pedro para nós: Catequizando a CNBB

Carta do Papa por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade 2012:

“Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma?”.

Ao Venerado Irmão
CARDEAL RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS
Arcebispo de Aparecida (SP) e Presidente da CNBB
Fraternas saudações em Cristo Senhor!






De bom grado me associo à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que lança uma nova Campanha da Fraternidade, sob o lema “que a saúde se difunda sobre a terra” (cf. Ecio 38,8), com o objetivo de suscitar, a partir de uma reflexão sobre a realidade da saúde no Brasil, um maior espírito fraterno e comunitário na atenção dos enfermos e levar a sociedade a garantir a mais pessoas o direito de ter acesso aos meios necessários para uma vida saudável.

Para os cristãos, de modo particular, o lema bíblico é uma lembrança de que a saúde vai muito além de um simples bem-estar corporal. No episódio da cura de um paralítico (cf. Mi_ 9, 2-8), Jesus, antes de fazer com que esse voltasse a andar, perdoa-lhe os pecados, ensinando que a cura perfeita é o perdão dos pecados, e a saúde por excelência é a da alma, pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma?» (Mi 16,26). Com efeito, as palavras saúde e salvação têm origem no mesmo termo latino ‘salus’ e não por outra razão, nos Evangelhos, vemos a ação do Salvador da humanidade associada a diversas curas: “Jesus andava por toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo o tipo de doença e enfermidades do povo” (Mt 4,23).

Com o seu exemplo diante dos olhos, segundo o verdadeiro espírito quaresmal, possa esta Campanha inspirar no coração dos fiéis e das pessoas de boa vontade urna solidariedade cada vez mais profunda para com os enfermos, tantas vezes sofrendo mais pela solidão e abandono do que pela doença, lembrando que o próprio Jesus quis Se identificar com eles: (pois Eu estava doente e cuidastes de Mim» (Mt 2536). Ajudando-lhes ao mesmo tempo a descobrir que se, por um lado, a doença é prova dolorosa, por outro, pode ser, na união com Cristo crucificado e ressuscitado, uma participação no mistério do sofrimento d’Ele para a salvação do mundo. Pois, «oferecendo o nosso sofrimento a Deus por meio de Cristo, nós podemos colaborar na vitória do bem sobre o mal, porque Deus toma fecunda a nossa oferta, o nosso ato de amor» (Bento XVI, Discurso aos enfermos de Turim, 2/V/2010).

Associando-me, pois, a esta iniciativa da CNBB e fazendo minhas as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de cada um, saúdo fraternalmente quantos tomam parte, física ou espiritualmente, na Campanha «Fraternidade e Saúde Pública», invocando — pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida — para todos, mas de modo especial para os doentes, o conforto e a fortaleza de Deus no cumprimento do dever de estado, individual, familiar e social, fonte de saúde e progresso do Brasil, tornando-se fértil na santidade, próspero na economia, justo na participação das riquezas, alegre no serviço público, equânime no poder e fraterno no desenvolvimento. E, para confirmar-lhes nestes bons propósitos, envio uma propiciadora Bênção Apostólica.

Vaticano, 11 de fevereiro de 2012
Fonte: Rádio Vaticano